Batismo com fogo

As palavras de João Batista (Mateus 3:11), “Aquele que vem depois de mim vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”, têm dado origem a várias interpretações. Alguns dos pais da igreja (por exemplo, João Damasceno) acreditam que isso signifique o fogo eterno do inferno. Outros pais da igreja (como Crisóstomo, Homilia 11 em Mateus) afirmam que, por “fogo” nesta passagem, João Batista se refere ao Espírito Santo, que, como fogo, destruiria as impurezas do pecado na regeneração conferida pelo santo batismo. Outros, como Hilário, Ambrósio e Orígenes, acreditam que se trata de um fogo purificador pelo qual os fiéis passarão antes de entrar no Paraíso, dando origem à doutrina católica do purgatório. Alguns pensam que isso significa o fogo das tribulações e aflições; outros, a abundância de graças; outros, o fogo do arrependimento e da autonegação, etc (Suicer, Thesaurus, p. 629).

Alguns antigos hereges, como os seleucianos e hermianos, entendiam a passagem literalmente e sustentavam que o fogo material era necessário na administração do batismo, mas não nos é dito nem como, nem a que parte do corpo eles o aplicavam, ou se obrigavam o batizado a passar pelas chamas. Valentino rebatizava aqueles que tinham recebido o batismo fora de sua seita e os fazia passar pelo fogo; e Heraclion, citado por Clemente de Alexandria, diz que alguns aplicavam um ferro em brasa às orelhas do batizado, como se quisessem marcar alguma coisa nelas.

A interpretação mais simples e natural é que a passagem não deve ser interpretada como uma forma separada de batismo daquele “com o Espírito Santo”, mas a expressão “com fogo” é epexegética, ou explicativa das palavras “com o Espírito Santo”. Esse modo de expressão, em que a partícula conectiva “e” apenas introduz uma ampliação da ideia anterior, é muito comum nas Escrituras. Portanto, o sentido será: “Ele vos batizará com o Espírito Santo, através do símbolo externo do fogo”, ou seja, as “línguas como de fogo que se dividiram” (Atos 2:3). Deve-se admitir, no entanto, contra essa visão, que “fogo” em outros lugares é o símbolo de vingança ou destruição, e que em todas as passagens paralelas tem esse significado (veja Kuinol in loc.). Portanto, seria mais apropriado entender o batismo com fogo como os castigos temporais e eternos aos quais os ouvintes de João estavam expostos, em contraste com o batismo espiritual oferecido como a outra alternativa. [McClintock e Strong, 1867-1882]