Que guarda a misericórdia em milhares, que perdoa a iniquidade, a rebelião, e o pecado, e que de nenhum modo justificará ao malvado; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos, sobre os de terceira, e quarta gerações.
Comentário de Robert Jamieson
Que guarda a misericórdia em milhares. A Septuaginta traz: dikaiosuneen diateeroon kai eleos eis chiliadas, guarda justiça e misericórdia. A versão síriaca traz para “milhares” — “por mil gerações”.
que perdoa a iniquidade, a rebelião, e o pecado. Estes três termos não devem ser separados nem considerados repetições sem sentido da mesma ideia. Eles descrevem diferentes fases e nuances da culpa do mal, transgressões, ofensas, pecados cometidos tanto contra Deus como contra os homens — pecados de natureza moral, bem como de caráter prescrito.
e que de nenhum modo justificará o culpado. Esta tradução, que sugere a vingança divina sobre os pecadores, e é geralmente considerada uma adição para corrigir impressões errôneas da bondade ilimitada de Deus — para mostrar, em resumo, que Ele é justo e reto, assim como benevolente e misericordioso — é bastante inconsistente com a ocasião, bem como com o objetivo desta proclamação, que foi, em resposta à solicitude e oração de Moisés pelo povo de Israel, anunciar Sua bondade especial ao lidar com aquela nação escolhida. Mas a palavra “culpado”, estando em itálico, é um acréscimo impróprio de nossos tradutores. Gesenius, que traduz as palavras por “mas de modo algum sempre deixará impune”, conecta-as com a senteça precedente; de modo que a passagem ficaria assim: “guardando misericórdia por milhares, mas não perdoando sempre o culpado” (Naum 1:3). Mas outros, preferindo outro sentido do verbo, também dado por esse lexicógrafo — estar vago, vazio, destruído — traduzem estas palavras, em conexão com o contexto subsequente, assim: “mas não esvaziarei ou destruirei completamente, ainda que visitando as iniquidades”, etc. Esta tradução concorda com Jeremias 25:29; 30:11; 46:28; 49:12; Naum 1:3, onde a mesma frase, embora traduzir em nossa versão como “não te deixarei totalmente sem castigo” — os melhores comentaristas preferem, como o paralelismo exige, “não te destruirei completamente”; e com Números 14:18, onde Moisés, retomando esta frase que saiu da boca de Deus, a utiliza como argumento para o exercício da clemência, embora teria sido singularmente inapropriado se o sentido correto fosse o da tradução inglesa (ver “Israel according to the Flesh”, p. 19). [JFU, 1866]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.