João 3:6

O que é nascido de carne, carne é; e o que é nascido do Espírito, espírito é.

Comentário de Brooke Westcott

O que é nascido… O tempo original (τὸ γεγεννημένον) transmite uma ideia que só pode ser reproduzida por uma paráfrase: “o que foi gerado, e atualmente se apresenta diante de nós sob essa luz.” Há uma diferença importante observada na narrativa entre o fato do nascimento (aoristo, vv. 3, 4, 5, 7) e o estado que segue como resultado permanente do nascimento (perfeito, vv. 6, 8). Em 1João 5:18, a interpretação correta depende do contraste entre o único Filho de Deus histórico (ὁ γεννηθείς, oposto ao maligno) e os filhos de Deus, que vivem em virtude do seu novo nascimento (ὁ γεγεννημένος). Compare também Gálatas 4:23, 29 para uma representação mais sutil de uma diferença correspondente de tempos verbais.

O neutro (o que é nascido…) expressa o princípio em sua forma mais abstrata. Em v. 8, há uma transição para o homem (todo aquele que é nascido). Há um contraste semelhante em 1João 5:4 (neutro) e 1João 5:1, 5:18 (masculino).

carneespírito. As palavras descrevem os princípios característicos de duas ordens. Elas não estão relacionadas como mal e bem, mas como as duas esferas de ser com as quais o homem está conectado. Pelo “espírito”, nossa natureza complexa está unida ao céu; pela “carne”, à terra. Compare com 6:63, nota.

carne. Esse termo provavelmente inclui tudo o que pertence à vida das sensações, tudo o que nos torna abertos às influências físicas do prazer e da dor, que naturalmente influenciam nossas ações. Assim, embora não inclua em si a ideia de pecado (1:14; 1 João 4:2), descreve a personalidade humana no lado que tende ao pecado, e no qual de fato pecamos.

Deve-se notar também que o que é nascido da carne e do espírito não é descrito como ‘carnal’ e ‘espiritual’, mas como ‘carne’ e ‘espírito’. Em outras palavras, a criança, por assim dizer, tem a mesma natureza que o pai, e não apenas compartilha de suas qualidades. A criança também ocupa, por sua vez, a posição de pai, de onde nasce uma descendência semelhante a ele. Compare o uso correspondente em 1João 1:5 (luz), 4:8 (amor).

do Espírito. Ou, de espírito. Embora o termo seja essencialmente abstrato e expresse o espírito como espírito, o poder vivificante é o Espírito. A ideia de natureza passa para a de Pessoa. A água não é repetida, porque o rito externo tira sua virtude da ação do Espírito.

Muitas autoridades antigas (Lat. vt., Syr. vt.) acrescentam, quia Deus spiritus est et de (ex) Deo natus est. Ambrósio (‘De spir.’ 3. § 59) acusa os arianos de terem removido as palavras “porque Deus é espírito” de seus manuscritos. A acusação é uma excelente ilustração da falta de fundamento de tais acusações de corrupção intencional das Escrituras. As palavras em questão não têm nenhuma autoridade grega e são obviamente um comentário. [Westcott, 1882]

< João 3:5 João 3:7 >

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