1 João 5

1 Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que gerou, também ama ao que dele é nascido.

Comentário de A. R. Fausset

A razão pela qual o nosso “irmão” tem direito a tal amor (1João 4:21), ou seja, porque ele é nascido (gerado) de Deus: assim, se queremos mostrar amor a Deus, devemos mostrá-lo ao representante visível de Deus. [JFU, 1866]

2 Nisto sabemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus, e praticamos os seus mandamentos.

Comentário de A. R. Fausset

Como o nosso amor aos irmãos é a prova de nosso amor a Deus, o amor a Deus (provado pela “obediência aos Seus mandamentos”) é, inversamente, a única base do verdadeiro amor ao nosso irmão. [JFU, 1866]

3 Pois este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados.

Comentário Cambridge

Pois este é o amor de Deus. Ou, Pois o amor de Deus é isto, ou seja, consiste nisto. A verdade implícita em 1João 5:2, de que o amor envolve obediência, é aqui explicitamente declarada (Compare com Jo 14:15,21,23; 15:10; 2João 1:6).

E os seus mandamentos (“amai a Deus” e “amai ao próximo”, compare com 1João 3:23) não são pesados. Por duas razões:1. Porque Ele nos dá força para suportá-lo (Filipenses 4:13); 2. porque o amor os faz leves. Eles não são como as “cargas pesadas e difíceis de levar” que o legalismo dos fariseus impôs às consciências dos homens. Aqui novamente temos um eco das palavras do Mestre: “meu julgo é suave, e minha carga é leve” (Mateus 11:30). [Cambridge, 1896]

4 Pois todo aquele que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.

Comentário Vincent

esta é a vitória que vence o mundo. A vitória sobre o mundo foi potencialmente conquistada quando cremos em Jesus como o Cristo, o Filho de Deus. Vencemos o mundo ao sermos unidos a Cristo. Ao nos tornarmos como Ele é (1João 3:17), nos tornamos participantes de Sua vitória (Jo 16:33). “Maior é o que que está em vós do que o que está no mundo” (1João 4:4).

a nossa fé. A confissão que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. [Vincent, 1886]

5 Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?

Comentário de A. R. Fausset

Confirmando, como um fato inegável (1João 5:4), que a vitória que vence o mundo é a fé. Pois é crendo que somos feitos um com Jesus o Filho de Deus, participando da Sua vitória sobre o mundo, e tendo em nós Um maior do que aquele que está no mundo (1João 4:4). [JFU, 1866]

6 Este é aquele que veio por água e sangue: Jesus, o Cristo. Não só pela água, mas pela água e pelo sangue. E o Espírito é o que lhe dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.

Comentário de A. R. Fausset

Este é aquele que veio por água – “por água”, quando Seu ministério foi inaugurado pelo batismo no Jordão, e Ele recebeu o testemunho do Pai para Seu messianismo e Filiação divina. Compare 1João 5:5, “crê que Jesus é o Filho de Deus”, com Jo 1:33-34, “Espírito…repousar sobre ele…eu o vi, e testemunhado tenho, que este é o Filho de Deus” ; e 1João 5:8, “E três são os que testemunham na terra: o Espírito, a água e o sangue”. Corresponde ao batismo da água e do Espírito, que Ele instituiu como um selo permanente de união com Ele (Jo 3:5). e sangue. Ele veio “o sangue da Sua cruz” (Hebreus 9:12: “ele entrou de uma vez por todas no Santuário, e obteve uma redenção eterna, não pelo sangue de bodes e bezerros, mas sim, pelo seu próprio sangue”): um fato presenciado e tão solenemente testemunhado por João.

Jesus, o Cristo – não uma mera denominação, mas uma afirmação solene da Pessoa e do Messianismo do Senhor. [Fausset]

7 Pois são três os que dão testemunho:

Comentário Whedon

Algumas versões da Bíblia acrescentam a este versículo: “o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um”, entretanto, os estudiosos atualmente concordam que estas palavras, e “na terra” no versículo seguinte, não são do apóstolo João, mas sim um acréscimo tardio. Elas são omitidas em todos os manuscritos gregos anteriores ao século 16; por todos os pais gregos, e por muitos pais latinos. Eles são omitidos nas primeiras edições da Vulgata Latina. O texto nunca foi usado pelos pais ortodoxos da Igreja primitiva na defesa da doutrina da Trindade contra Ário. Essa doutrina foi estabelecida na Igreja sem qualquer auxílio deste texto. [Whedon, 1874]

8 o Espírito, a água e o sangue; e estes três estão em unidade.

Comentário Vincent

estes três estão em unidade. Eles convergem para a única verdade, Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio em carne e osso. [Vincent, 1886]

Para entender o significado de Espírito, a água e o sangue, veja o comentário de 1João 5:6.

9 Se recebemos o testemunho humano, o testemunho de Deus é maior; pois este é o testemunho de Deus, que testificou de seu Filho.

Comentário de A. R. Fausset

Se recebemos (e com razão) o testemunho de homens verdadeiros, por mais falíveis que sejam; muito mais devemos aceitar o testemunho infalível de Deus (o Pai). “O testemunho do Pai é a base do testemunho da Palavra e do Espírito Santo; assim como o testemunho do Espírito é a base do testemunho da água e do sangue” (Bengel).

este é o testemunho de Deus – encontrado em 1João 5:1,5, “Jesus é o Cristo, o Filho de Deus”; e abaixo em 1João 5:10-11. [JFU, 1866]

10 Quem crê no Filho de Deus tem testemunho em si; quem não crê em Deus o fez de mentiroso, porque não creu no testemunho que Deus deu acerca do seu Filho.

Comentário de A. R. Fausset

no testemunho que Deus deu acerca do seu Filho. Encontrado em 1João 5:1,5, “Jesus é o Cristo, o Filho de Deus”; e abaixo em 1João 511. [JFU, 1866]

11 E este é o testemunho: que Deus nos deu a vida eterna; e essa vida está no seu Filho.

Comentário de A. R. Fausset

deu – no original grego, aoristo, “deu de uma vez por todas. Não apenas “prometeu” isso.

essa vida está no seu Filho – essencialmente (Jo 1:411:2514:6); corporalmente (Colossenses 2:9); eficientemente (2Timóteo 1:10) (Lange). É no segundo Adão, o Filho de Deus, que esta vida nos é assegurada, a qual, se dependesse de nós, perderíamos como o primeiro Adão. [JFU, 1866]

12 Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.

Comentário do Púlpito

A vida eterna não é dada a todo o mundo, nem a todos os cristãos em massa; é dado aos indivíduos, alma por alma, conforme cada um aceita ou não o Filho de Deus. A ordem do grego é digna de nota – na primeira metade do versículo, a ênfase está no “tem”, no segundo na “vida”. [Pulpit, 1897]

13 Estas coisas escrevi para vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna.

Comentário Cambridge

para que saibais que tendes a vida eterna. Na abertura da Epístola, João disse: “Estas coisas vos escrevemos para que a vossa alegria seja completa” (1João 1:4). O contexto mostra o que constitui essa alegria. É a consciência da comunhão com Deus e Seu Filho e Seus santos; em outras palavras, é a posse consciente da vida eterna (Jo 17:3). Assim, a Introdução e Conclusão da Epístola se explicam mutuamente. Este versículo também deve ser comparado com seu paralelo no Evangelho (Jo 20:31). Saltam aos olhos os propósitos semelhantes, mas não idênticos, do Evangelho e da Epístola. João escreve seu Evangelho, “para que tenhais vida”; ele escreve sua epístola “para que saibais que tendes a vida”. Um conduz à obtenção do benefício; o outro à alegria de saber que o benefício foi obtido. O propósito de um é produzir a fé; o do outro é tornar claros os frutos da fé. [Cambridge, 1896]

14 E esta é a confiança que temos diante dele: que se pedirmos alguma coisa conforme a sua vontade, ele nos ouve.

Comentário de A. R. Fausset

a confiança – ousadia (1João 4:17) em oração, que resulta de saber que temos a vida eterna (1João 5:133:19,22).

alguma coisa conforme a sua vontade – que é a vontade do crente e que, portanto, não restringe as suas orações. Na medida em que a vontade de Deus não é a nossa vontade, não estamos permanecendo na fé, e nossas orações não são aceitas. Alford bem diz: Se conhecêssemos a vontade de Deus, e a ela nos submetêssemos de coração, seria impossível para nós pedir algo pelo espírito ou pelo corpo que Ele não realizasse: é esta condição ideal que o apóstolo tem em vista. É o Espírito que nos ensina interiormente, e Ele mesmo em nós pede segundo a vontade de Deus. [JFU, 1866]

15 E se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as coisas que lhe pedimos.

Comentário Cambridge

E se sabemos que nos ouvesabemos que alcançamos. Uma certeza depende da outra: se confiamos na bondade de Deus, estamos perfeitamente certos de que a nossa confiança não é indevida. “Portanto eu vos digo que tudo o que pedirdes orando, crede que recebereis, e vós o tereis” (Marcos 11:24). tudo o que pedimos pertence à cláusula condicional.

que alcançamos. Não apenas que alcançaremos: as nossas orações já são atendidas, embora nenhum resultado seja perceptível. “Pois qualquer um que pede recebe; e quem busca acha; e ao que bate lhe é aberto” (Mateus 7:8). [Cambridge, 1896]

16 Se alguém vê o seu irmão cometer um pecado que não é para a morte, orará, e lhe dará vida, para os que não pecarem para a morte. Há pecado para a morte, pelo qual não digo que ore.

Comentário Dummelow

Há pecado para a morte. Não há nenhum pecado específico que possa ser reconhecido como “para a morte”. O pecado não pode ser dividido em “mortal” e “venial” sob a autoridade desta passagem. O pecado pode ter um caráter que leve à total separação de Cristo, que é a morte espiritual.  O “pecado para a morte” não é qualquer ato de pecado, por mais hediondo que seja, mas uma condição ou prática do pecado voluntariamente escolhida: é uma oposição constante e consumada a Deus (Plummer). [Dummelow, 1909]

17 Toda injustiça é pecado; e há pecado que não é para a morte.

Sobre o pecado para morte, leia o comentário de 1João 5:16.

18 Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado; mas o que é gerado de Deus o guarda, e o maligno não o toca.

Comentário Ellicott

todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado. João insiste fortemente, no encerramento de sua carta, que o que representa o verdadeiro cristão é a ausência de pecado voluntário. Pode haver tropeços, mesmo que precise das orações de amigos, mas não há injustiça proposital.

o que é gerado de Deus o guarda – isto é, o Filho de Deus o preserva. (Comp. Jo 6:39; 10:28; 17:12,15).

o maligno não o toca. A última menção do diabo foi em 1João 3:10. O diabo e seus anjos atacam, mas não têm influência enquanto o cristão permanecer em Cristo. (Comp. 1Pedro 5:8; Efésios 6:11; Apocalipse 3:10). [Ellicott, 1905]

19 Sabemos que somos de Deus, e que o mundo todo jaz no maligno.

Comentário Cambridge

O mundo permanece em seu poder. Não passou, como eles, da morte para a vida; mas permanece no maligno, que é seu governante (Jo 12:31; 14:30; 16:11), assim como o cristão permanece em Cristo. É claro, portanto, que a separação entre a Igreja e o mundo deve ser, e tende a ser, tão total quanto a separação entre Deus e o maligno. O versículo anterior e a antítese a Deus, para não dizer nada de 1João 2:13-14; 4:4, deixa bem claro que o maligno (τῷ πονηρῷ) aqui é masculino e não neutro. O maligno não se apodera do filho de Deus: ele não só se apodera do mundo, mas o tem totalmente dentro do seu abraço. [Cambridge, 1896]

20 E sabemos que o Filho de Deus veio, e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro; e no Verdadeiro estamos, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus, e a vida eterna.

Comentário de A. R. Fausset

Resumo dos nossos privilégios cristãos.

nos deu entendimento. O ofício de Cristo é dar a compreensão espiritual para discernir as coisas de Deus.

para conhecermos o Verdadeiro. Deus, em oposição a todo tipo de ídolo ou falso deus (1João 5:21). Jesus, em virtude de sua união com Deus, é também “o Verdadeiro” (Apocalipse 3:7).

e no Verdadeiro estamos – “estamos no verdadeiro” Deus, por estarmos em seu Filho Jesus Cristo.

Este é o verdadeiro Deus – “Este Jesus Cristo (a última Pessoa nomeada) é o verdadeiro Deus” (identificando-O com o Pai em ser o único Deus verdadeiro, Jo 17:3) – e a vida eterna – predicado do Filho de Deus; Alford erroneamente diz que “Ele era a vida, mas não a vida eterna”. O Pai é a vida eterna como sua fonte; o Filho é também essa vida eterna manifestada, como a própria passagem (1João 1:2) que Alford cita, prova contra ele. Compare também 1João 5:11,13. É como mediador da VIDA ETERNA a nós que Cristo é aqui considerado. “O verdadeiro Deus e a vida eterna é este” Jesus Cristo; isto é, ao acreditar nEle, acreditamos no verdadeiro Deus e temos a vida eterna. Isto prepara o caminho para a advertência contra falsos deuses (1João 5:21). Jesus Cristo é a única “expressa imagem da pessoa de Deus” aprovada, a única manifestação verdadeira de Deus. Todas as outras representações de Deus são proibidas como ídolos. Assim, a carta termina como começou (1João 1:1-2). [JFU, 1866]

21 Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.

Comentário de A. R. Fausset

guardai-vos dos ídolos. Os cristãos estavam por toda parte rodeados de idólatras com os quais era impossível evitar algum contato. Daí a necessidade de estarem atentos contra um compromisso, mesmo indireto, ou comunhão com a idolatria. Alguns em Pérgamo, na região de onde João escreveu, caíram na cilada de comer coisas sacrificadas aos ídolos (Apocalipse 2:14). No momento em que deixamos de permanecer em Jesus Cristo, que “é Verdadeiro”, tornamo-nos parte “do mundo que jaz no maligno”, entregues à idolatria espiritual, se não à literal (Efésios 5:5; Colossenses 3:5). [JFU, 1866]

<1 João 4 2 João 1>

Introdução à 1João 5

1 João 5 se divide em duas partes. Os doze primeiros versículos formam a última seção da segunda divisão principal da Epístola, Deus é Amor (1João 2:29 a 1João 5:12): os últimos nove versos formam a conclusão e o resumo do todo. Alguns editores dividem a primeira parte do capítulo em duas seções, 1 a 5 e 6 a 12, mas textos e versões parecem estar certos ao agrupá-las como um parágrafo. A segunda parte contém duas seções menores, 13-17 e 18-21. Portanto, podemos analisar o capítulo da seguinte forma: a fé é a fonte do amor, a vitória sobre o mundo e a posse da vida (1João 5:1-12). Conclusão e Resumo: o amor intercessor é fruto da fé e da posse da vida (1João 5:13-17); a soma do conhecimento do cristão (1João 5:18-20); injunção prática final (1João 5:21).

Observar-se-á que no meio da primeira seção, temos o que parece à primeira vista uma digressão e, ainda assim, está intimamente conectada ao assunto principal da seção. Esse assunto principal é , uma palavra que (estranhamente) não ocorre em nenhum outro lugar nas epístolas de João, nem em seu evangelho. E a fé implica necessariamente testemunho. Somente com a força do testemunho é possível a fé. Portanto, neste parágrafo sobre Fé e seus efeitos, o Apóstolo fornece em detalhes os vários tipos de testemunho nos quais a fé do cristão se baseia (1 Jo 5:6-12). O parágrafo mostra claramente a visão de João da relação entre Fé e Amor. Os dois são inseparáveis. [Cambridge, 1896]

Visão geral de 1, 2 e 3 João

Nas cartas de João, “o autor chama seguidores de Jesus a participarem da vida e amor de Deus, dedicando-se a amarem uns aos outros”. Para uma visão geral deste livro, assista ao breve vídeo abaixo produzido pelo BibleProject. (10 minutos)

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Leia também uma introdução à Primeira Epístola de João.

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