Aqui está a sabedoria: aquele que tem entendimento, calcule o número da besta, porque é número humano; e seu número é seiscentos e sessenta e seis.
Comentário de Plummer, Randell e Bott
Aqui está a sabedoria. Quem tem entendimento calcule o número da besta; pois é número de homem. Sem artigo: ἀριθμὸς γὰρ ἀνθρώπου ἐστί. Compare “Aqui está a perseverança…” no v. 10, que ali se refere ao precedente; aqui, evidentemente, ao que segue. Fórmula frequente em João (cf. 1João 2:6; 3:16, 19; 4:10). O sentido simples: que os homens mostrem sabedoria e entendimento desvendando o significado do número. Auberlen pode ter razão: como a primeira besta é vencida por perseverança e fé, a segunda o é por sabedoria — o que coaduna com nosso entender desta besta como autoengano. João evidentemente deseja que o sentido seja conhecido: “calcule o número”; isto é, “discira em que sentido se usa o símbolo”. É “número de homem”: descreve simbolicamente algo peculiar à humanidade. Alguns entendem: “o número refere-se a um homem em particular”; mas a ausência do artigo milita contra. Outros: “é número a ser contado segundo o modo humano de contar”, como em Apocalipse 21:17 (“medida de homem”). Se assim, deixa em aberto o que João quis por “modo humano”: seu uso de números é, como vimos, simbólico — qualidades gerais, não indivíduos ou cifras exatas; logo, somos justificados a interpretar simbolicamente.
E seu número é seiscentos e sessenta e seis. A Revisada conserva a forma paralela: ἑξακόσιοι ἑξήκοντα ἕξ (em A; em א: ἑξακόσιαι; em P, André: ἑξακόσια; forma abreviada χξς’ em B e na maioria). C, 11 e alguns manuscritos conhecidos por Irineu e Ticônio leem 616 (ἑξακόσιαι δέκα ἕξ), provavelmente incorreto. Comentadores têm universalmente tentado achar o nome denotado por 666, somando valores numéricos das letras do nome (geralmente gregas). Há várias objeções: (1) João em nenhum outro lugar usa número assim, embora os números sejam proeminentes; (2) tal método decorre de entender “número de homem” como “número calculado por métodos humanos”, o que pode não ser o sentido; e, se for, “método humano” seria o simbólico joanino, bem entendido por autor e leitores; (3) o método tem sido insatisfatório. Dr. Salmon (Introduction to the NT, p. 291 e segs.) expõe a falácia; uma solução comum é Nero Caesar em hebraico נרון קסר (com variação Neron/Nero para explicar 616/666), mas Salmon mostra que Nero não poderia ser o intento porque (1) a profecia seria logo desmentida; (2) a solução teria sido conhecida pelos antigos cristãos, o que Irineu nega. Salmon lista muitos nomes já propostos (de imperadores a papas, Maomé, Lutero, Calvino, Beza, Napoleão), e três “regras” com que qualquer nome pode ser adaptado. As objeções valem também para λατεινός (poder romano/latino). Se, porém, interpretarmos como os demais números do Apocalipse — simbolicamente — estaremos em terreno mais seguro. O número seis tipifica o terreno, em contraste com o celestial: enquanto sete é perfeição, universalidade — símbolo divino —, seis é o que fica aquém do ideal. Cf. seis dias da criação; seis anos de servidão (Êxodo 21:2) e de trabalho (Êxodo 23:10). O uso tríplice do seis, enfatizando o caráter terreno, tem uma plenitude e aparência de completude que o tornam tipo do que parece perfeito mas, na realidade, fica aquém — um engano, uma simulação. Descreve, portanto, a natureza da segunda besta: o autoengano que leva os homens a aceitar o mundo como substituto de Deus, ou ao menos não o julgar antagônico a ele; que lhes permite aquietar a consciência, tornando-se, na verdade, seguidores do poder mundano e súditos de Satanás. Alguns reconhecem esse sentido do seis, ainda que não o apliquem aqui. O Speaker’s Commentary (Introdução, § 11[a]) diz: “Seis é a ‘assinatura’ da não-perfeição”; e: “Este número é também símbolo do domínio e poder humanos.” Wordsworth: “O símbolo numérico da besta, 666, indica que ele visa e aspira aos atributos de Cristo e apresenta uma aparência de verdade cristã, mas decai dela em tripla regressão e degeneração.” [Plummer, Randell e Bott,
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