E aconteceu que, quando ele estava numa daquelas cidades, eis que um homem cheio de lepra viu Jesus; então prostrou-se sobre o rosto, e lhe rogou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes me tornar limpo.
Acessar Lucas 5 (completo e com explicações).
Comentário de Frederic Farrar
numa daquelas cidades – provavelmente a vila de Hattîn, pois, conforme indica Mateus, esse incidente ocorreu na descida do Monte das Bem-Aventuranças (Kurn Hattîn), veja Mateus 8:1-4 e Marcos 1:40-45. Assim, cronologicamente, o chamado de Mateus, a escolha dos Doze e o Sermão do Monte provavelmente ocorreram entre esse evento e o anterior.
um homem cheio de lepra. A natureza terrível e desesperadora dessa doença — um tipo de deterioração horrenda, causada pela corrupção total do sangue — já foi descrita diversas vezes, dispensando mais detalhes. Consulte Levítico 13 e 14. Era como uma morte em vida, indicada pela cabeça descoberta, roupas rasgadas e lábios cobertos. Na Idade Média, uma pessoa com lepra era “vestida em mortalha, e cânticos fúnebres eram entoados sobre ele”. Em sua repulsividade extrema, é considerada no Evangelho um símbolo do pecado. A expressão “cheio de” sugere o rápido avanço e horror da doença; quando o corpo todo estava coberto pela brancura, a pessoa era autorizada a conviver com os outros como se estivesse limpo (Levítico 13:13).
prostrou-se sobre o rosto. Obtemos a imagem completa ao combinar os três Evangelistas. Vemos, então, que ele se aproximou com intensas súplicas, caindo de joelhos, adorando e, finalmente, em agonia, prostrando-se com o rosto em terra.
podes me tornar limpo. A fé desse pobre leproso devia ser intensa, pois, até aquele momento, havia apenas um caso de um leproso milagrosamente (Lucas 4:27; 2 Reis 5). [Farrar, 1891]
Comentário de Alfred Plummer 🔒
(12–16) A CURA DE UM LEPROSO. Aqui temos, com certeza, um episódio registrado pelos três evangelistas. O grau de concordância verbal é muito grande, e podemos afirmar com segurança que os três fazem uso de material comum. Mateus (8:1–4) é o mais breve, Marcos (1:40–45) o mais completo; mas Mateus é o único que fornece alguma indicação de tempo. Ele situa o milagre logo depois de Jesus ter descido após proferir o Sermão do Monte.
Sobre o tema da lepra, ver H. V. Carter, Leprosy and Elephantiasis, 1874; Tilbury Fox, Skin Diseases, 1877; Kaposi, Hautkrankheiten, Viena, 1880; e a literatura indicada ao final do artigo Aussatz em Herzog; também em Hirsch, Handb. d. Pathologie, 1860.
[καὶ ἰδού] Hebraísmo; em Mateus 8:2, mas não em Marcos 1:40: o καί é a apódose de ἐγένετο, como no versículo 1. Nenhum verbo segue o ἰδού, como se a presença do leproso fosse uma surpresa. Teria o homem desconsiderado a lei ao se aproximar da multidão? Ou o povo teria se deparado com ele de repente, antes que pudesse evitá-los? O que se segue mostra uma terceira possibilidade. Syr-Sin. omite καὶ ἰδού.
[πλήρης λέρας] Esse detalhe é fornecido somente pelo médico amado. Seu rosto e suas mãos estariam cobertos de úlceras e feridas, de modo que todos podiam ver que a terrível doença estava em estágio muito avançado. Isso talvez explique o fato de o homem se arriscar a entrar no meio da multidão e de as pessoas não fugirem à sua aproximação; pois, por uma curiosa disposição da lei, se a lepra irromper por toda a pele, e a lepra cobrir toda a pele daquele que tem a praga, desde a cabeça até os pés… então o sacerdote… o declarará limpo, aquele que tem a praga (Levítico 13:12-13).
[ἐδεήθη αὐτοῦ] Com exceção de Mateus 9:38, o verbo é peculiar no Novo Testamento a Lucas e Paulo. É especialmente frequente em Lucas (8:28, 38; 9:38, 40; 10:2 etc.). Na LXX representa uma variedade de palavras hebraicas e é muito comum. Aqui Marcos tem παρακαλῶν.
[ἐὰν θέλῃς, δυνασαί με καθαρίσαι]. Os três relatos trazem essas palavras e a resposta a elas, Θέλω, καθαρίσθητι, sem variação. O δύνασαι é evidência de uma fé forte no poder divino de Jesus, pois a lepra era considerada incurável por meios humanos. Era “o golpe” de Deus e não podia ser removida pela mão do homem. Mas é característico da compreensão imperfeita do homem quanto ao caráter de Cristo que ele confie mais em seu poder do que em sua bondade. Ele duvida da vontade de curar. Diz καθαρίσαι em vez de θεραπεῦσαι ou ἰάσασθαι por causa da impureza envolvida na lepra (Levítico 13:45-46). No Antigo Testamento, impuro e limpo, e não doente e curado, são os termos usados a respeito do leproso. A antiga explicação racionalista, segundo a qual καθαρίσαι significa declarar limpo e o homem já estaria curado, mas desejaria que o grande rabi de Nazaré o absolvesse da viagem dispendiosa e incômoda a Jerusalém, contradiz as declarações claras dos Evangelhos. Ele estava cheio de lepra (Lucas); imediatamente a lepra o deixou (Marcos; Lucas). Se καθαρίσαι significa declarar limpo, então καθαρίσθητι significa sê declarado limpo. Contudo, Jesus o envia ao sacerdote (Lucas; Marcos; Mateus). Compare as ordens de Cristo com as orações de Moisés, Elias e Eliseu quando curavam. Ver Deissmann, Bible Studies, p. 216. [Plummer, 1896]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.