E escreve ao anjo da igreja dos laodicenses: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o principal da criação de Deus:
Comentário de Plummer, Randell e Bott
Laodiceia, situada às margens do rio Lico (um afluente do Meandro), ficava a cerca de oitenta quilômetros ao sudeste de Filadélfia. O nome turco moderno, Eskihissar, significa “o castelo antigo”. Ela se localizava no lado oeste do vale do Lico, e nas encostas opostas, a cerca de 10 a 13 quilômetros de distância, ficavam Hierápolis e Colossos, cidades com as quais é associada por Paulo (Colossenses 4:13 e 4:16). Inicialmente chamada de Dióspolis, em homenagem à sua divindade, Zeus, depois passou a se chamar Rheas, e finalmente recebeu o nome Laodiceia, dado por Antíoco II, em honra à sua esposa, Laodice. Havia várias outras cidades com o mesmo nome, e esta se distinguia pelo acréscimo “no Lico”. Era uma cidade rica, cujo comércio se baseava principalmente na produção de tecidos de lã. Também tinha uma localização estratégica, na estrada principal que ligava Éfeso ao interior. Embora, como outras cidades da Ásia Menor, tenha sido atingida por terremotos, recuperava-se rapidamente; e era motivo de orgulho para os laodicenses o fato de, ao contrário de Éfeso e Sardes, não precisarem de ajuda externa para restaurar sua prosperidade. Esse fato explica as tentações às quais os laodicenses estavam sujeitos e as referências em Apocalipse 3:16 àqueles que não eram nem frios nem quentes, e em Apocalipse 3:17 àqueles que diziam ser ricos e não necessitarem de nada (ver comentários sobre Apocalipse 3:16 e 3:17). A igreja cristã ali pode ter sido fundada por Epafras, por meio de quem Paulo provavelmente soube da presença de falsas doutrinas naquele lugar (Colossenses 2:4, 2:8 e 1:8), pois a Epístola aos Colossenses parece também ser endereçada aos laodicenses (Colossenses 4:16). A importância dessa igreja perdurou por algum tempo, sendo o famoso Concílio de Laodiceia realizado ali em 361 d.C., e, um século depois, seu bispo ainda ocupava uma posição de destaque. No entanto, sua influência foi diminuindo gradualmente, e os turcos a pressionaram severamente; hoje em dia, resta pouco mais do que um monte de ruínas. As advertências dos apóstolos Paulo e João, se foram ouvidas em algum momento, acabaram esquecidas — e o seu candelabro foi removido.
ao anjo. Os intérpretes que entendem “o anjo” de uma igreja como sendo o seu principal líder podem, com alguma plausibilidade, argumentar que em Laodiceia quase certamente esse líder era Arquipo. Na epístola a Filemom — um cristão rico de Colossos — Paulo envia saudações a Arquipo (Filemom 1:2). Se Arquipo fosse filho de Filemom, seria bastante natural que ocupasse o cargo de bispo em Laodiceia na época da mensagem de João. Além disso, sendo filho de um cristão influente e rico, é possível que tivesse sido escolhido como bispo da igreja vizinha, mas talvez lhe faltasse o zelo necessário para cumprir plenamente seu ministério. Isso explicaria a exortação direta de Paulo: “Dizei a Arquipo: Atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para que o cumpras” (Colossenses 4:17), versículo que aparece logo após a menção à igreja dos laodicenses. As Constituições Apostólicas também afirmam que Arquipo foi o primeiro bispo de Laodiceia.
da igreja dos laodicenses, ou melhor, “à igreja em Laodiceia” (em grego: τῆς ἐν Λαοδικαίᾳ ἐκκλησίας).
Isto diz o Amém. Aqui, a palavra “Amém” é usada como um nome próprio de nosso Senhor — única vez que aparece dessa forma. Significa “O Verdadeiro”. É termo frequente no Evangelho de João, onde aparece repetido no início de muitos discursos (“Em verdade, em verdade”). Em Isaías 65:16, “o Deus do Amém” (אֱלֹהֵי אָמֵן) é traduzido na Septuaginta como alēthinos (verdadeiro). Essa designação se aplica de maneira especial a Cristo (que é a Verdade, João 14:6), não só como um título geral, mas especialmente no contexto deste anúncio solene aos laodicenses. Era grande a necessidade de a verdade ser proclamada abertamente por Aquele que é a Verdade, àqueles que, embora se dissessem cristãos, estavam enganados pela sedução das riquezas (Mateus 13:22) e iludidos por uma tentativa de conciliar dois mundos por meio de um cristianismo morno. O objetivo desta carta era tirar o véu que escondia a verdade de seus olhos e levá-los a um conhecimento extremamente difícil: o conhecimento de si mesmos.
a testemunha fiel e verdadeira — uma amplificação do “Amém”. O adjetivo “fiel” afirma a veracidade do testemunho de Cristo; “verdadeira” (alēthinós) significa “real e completa”. Ele é Testemunha fiel porque seu testemunho é verdadeiro; e é verdadeira porque nele se cumprem perfeitamente todos os requisitos que constituem uma testemunha plena e autêntica. A palavra “fiel” (pistós) tem aqui sentido passivo — “digno de confiança” — e não ativo, como “aquele que crê”. Trench observa corretamente que Deus só pode ser fiel nesse sentido passivo; já o homem pode sê-lo nos dois. Cristo é uma Testemunha digna de fé, pois:
- Viu o que testificava;
- Tinha competência para relatar e comunicar o que viu;
- Estava disposto a fazê-lo com fidelidade e verdade.
o principal da criação de Deus. Essas palavras podem ser entendidas de duas maneiras:
- Que “princípio” seja tomado no sentido passivo, fazendo de Cristo a primeira criatura dentre todas as coisas criadas por Deus;
- Ou no sentido ativo, como Aquele que dá início, o Autor, a Fonte, o Princípio ativo de todas as coisas criadas por Deus.
A segunda interpretação é a correta, conforme todo o testemunho das Escrituras. Os arianos, ao tentarem negar a divindade de Cristo, citavam esse versículo atribuindo-lhe o sentido passivo. No entanto, archē (ἀρχή) frequentemente tem sentido ativo, e assim deve ser compreendido aqui — o que é confirmado pelo abundante testemunho da divindade de Cristo em outras partes da Bíblia, especialmente nos escritos de João. Assim, os autossuficientes laodicenses são exortados a confiar naquele que é a Fonte de todas as coisas, e não nas coisas criadas, das quais ele é o Criador. [Plummer, Randell e Bott, 1909]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.