Mateus 15:38

E foram os que comeram quatro mil homens, sem contar as mulheres e as crianças.

Comentário de J. A. Broadus

sem contar as mulheres e as crianças – mencionado apenas por Mateus, como antes em Mateus 14:21.

Este milagre é registrado tanto por Mateus quanto por Marcos, e o primeiro milagre de alimentação foi registrado por todos os quatro evangelistas. E logo depois, (Mateus 16:9) encontramos registrado tanto por Mateus quanto por Marcos que nosso Senhor se referiu aos dois milagres como ensinando a mesma lição separadamente. Isso mostra de forma conclusiva que eventos notavelmente semelhantes realmente ocorreram na história de nosso Senhor, o que é importante lembrar em relação às duas visitas a Nazaré, às duas purificações do templo, às duas mulheres que ungiram Jesus, à parábola das dez minas e à dos talentos, etc., onde acontece que os dois eventos ou discursos são registrados apenas por diferentes evangelistas. Alguns exegetas chegam à conclusão de que esses são apenas relatos variáveis e conflitantes do mesmo acontecimento. Se a alimentação dos cinco mil com cinco pães tivesse sido registrada apenas por um evangelho, e a dos quatro mil com sete pães apenas por um ou dois outros, seria afirmado com grande confiança que esses eram o mesmo milagre. Não devemos ser harmonizadores excessivamente nervosos, nem ansiosos para assumir que a harmonização é impossível. Vale a pena observar como são naturais, nesses dois milagres, os pontos de concordância e quão notáveis são algumas das diferenças. Era natural que, em ambos os casos, a situação fosse em uma região selvagem, onde não seria possível obter comida suficiente de fontes comuns; que o tipo de alimento multiplicado fosse o comum nas margens do lago; que Jesus “abençoasse” ou “desse graças” antes de partir o pão, conforme o costume; e que a distribuição da comida fosse feita com a ajuda dos discípulos, algo evidentemente conveniente e apropriado. Por outro lado, a localidade exata na região selvagem é diferente nos dois casos. Agora, no verão árido, não há menção de se reclinar na grama, como Mateus, Marcos e João mencionaram no primeiro caso, ocorrido na primavera. A quantidade de comida aqui é maior do que antes, enquanto o número de pessoas é menor. Neste caso, as pessoas permaneceram três dias; no outro, apenas um dia. Há também uma pequena, mas notável, diferença na palavra traduzida como “cesto.” No primeiro milagre, nos quatro evangelhos, é usada uma palavra comum para “cesto” (kophinos), enquanto aqui, nos dois evangelhos, é usada “sphuris.” Na menção subsequente desses milagres (Mateus 16:9 e seguintes; Marcos 6:19 e seguintes), a palavra para o primeiro milagre é novamente kophinos, e para o segundo milagre, sphuris. Não sabemos exatamente a diferença entre as duas palavras, mas a observação cuidadosa dessa distinção mostra claramente como os dois milagres eram distintos. Orígenes e Crisóstomo sugerem que o “sphuris” era um cesto maior, e isso parece confirmado por seu uso no episódio em que Paulo foi baixado pela muralha de Damasco (Atos 9:25). Já o “kophinos” parece ser um cesto menor, de provisões, como o que um judeu normalmente carregava em suas viagens (veja em Mateus 14:20). Os discípulos podem ter usado esses cestos maiores agora porque estavam fazendo uma longa jornada.

O aspecto curioso deste segundo milagre é o fato de os apóstolos não mencionarem (Mateus 15:33) o primeiro milagre de alimentação, que havia ocorrido pouco tempo antes. Muitos críticos consideraram isso inexplicável e, por essa razão, negaram a realidade do segundo milagre, mesmo que ele seja afirmado de forma explícita e repetida. No entanto, é importante lembrar: Nosso Senhor havia repreendido severamente a multidão que participou da primeira alimentação por segui-lo no dia seguinte com a esperança de serem alimentados novamente (João 6:2). Ele também ficou muito descontente com a determinação popular, causada por aquele milagre, de fazê-lo rei. Ele chegou a apressar os próprios discípulos a se retirarem, possivelmente porque eles simpatizavam com essa intenção popular (veja Mateus 14:22). Diante dessa situação, os discípulos poderiam, naturalmente, duvidar se Jesus estaria disposto a repetir um milagre que anteriormente havia gerado resultados tão indesejáveis e, de qualquer forma, poderiam sentir grande hesitação em sugerir que ele realizasse algo semelhante. (Compare com Marcos 9:32, onde os discípulos estavam “com medo de perguntar-lhe.”) Contudo, assim que Jesus indica sua intenção, perguntando quantos pães eles têm, os discípulos não demonstram surpresa nem dúvida, mas seguem diretamente para executar os detalhes necessários. [Broadus, 1886]

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Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.