Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita lavar, a não ser os pés, mas está todo limpo. E vós limpos estais, porém não todos.
Comentário de Brooke Westcott
A resposta do Senhor introduz uma nova ideia. Do conceito do ato de serviço em si, somos levados ao significado simbólico da ação específica como um processo de purificação. O “lavar” de uma parte do corpo, como os pés, mãos ou cabeça, é contrastado com o “banhar” o corpo inteiro. O “lavar” não representa uma mudança essencial, mas se refere a uma transformação já realizada. Quem já tomou banho (ὁ λελουμένος) só precisa lavar (νίψασθαι) os pés.
Algumas autoridades textuais omitem “exceto” e “os pés”. Se essa leitura for adotada, a ênfase estará em “não precisa”. A limpeza posterior pode ser um ato de amor divino, mas não deve ser exigida pela vontade humana. A forma do verbo sugere essa ideia: não significa “ser lavado”, mas “lavar-se” ou “lavar os próprios pés” (Mateus 15:2; Marcos 7:3). No entanto, é mais provável que a omissão tenha ocorrido devido à dificuldade de conciliar a frase com “completamente limpo”.
Se a leitura comum for mantida, o sentido será que a limpeza limitada, agora simbolizada, é tudo o que é necessário. Quem já tomou banho precisa apenas remover as impurezas adquiridas ao longo do caminho, assim como um convidado, após o banho, só precisa ter a poeira lavada dos pés ao chegar à casa do anfitrião.
Está completamente limpo – As impurezas superficiais, como nas mãos, cabeça ou pés, não alteram a condição geral. A pessoa, como um todo, continua limpa.
E vós estais limpos, mas nem todos – A ideia de impureza parcial da pessoa se transforma na ideia de impureza parcial da comunidade. Os apóstolos, como grupo, eram limpos. A presença de um traidor, a mancha a ser removida, não alterava o caráter do grupo, assim como a sujeira nos pés não mudava a limpeza essencial da pessoa.
Nesse contexto, o trecho ilumina a doutrina da santidade da Igreja visível. Isso se torna mais claro ao percebermos que o “banhar”, em contraste com “lavar”, antecipa a ideia do Batismo Cristão (Hebreus 10:22; Efésios 5:26; Tito 3:5). No entanto, não há evidências de que os próprios apóstolos tenham sido batizados, exceto com o batismo de João. Para eles, o “banho” consistia na comunhão direta com Cristo. Esse ato especial de serviço era apenas um complemento ao amor contínuo dessa relação (cf. João 15:3). [Westcott, aguardando revisão]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.