João 2:22

Portanto, quando ressuscitou dos mortos, seus discípulos se lembraram que ele lhes tinha dito isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha lhes dito.

Comentário de Brooke Westcott

ressuscitou] Melhor: foi ressuscitado; assim também 21:14. A frase completa seria “foi ressuscitado por Deus dentre os mortos”, como em várias passagens. Nessas, a ressurreição é vista como obra do Pai; menos frequentemente, apenas como ressurreição, manifestação do poder do Filho, Marcos 8:31, 9:9; Lucas 24:7. Compare João 11:23, 24; e versículo 19.

se lembraram] Versículo 17. A repetição da palavra indica os fatos da vida de Cristo como novo registro de revelação, que os discípulos meditavam antes mesmo de serem escritos. Compare 12:16.

tinha dito] Melhor: dizia. O tempo original (ἔλεγεν) implica repetição ou ênfase. Compare 5:18, 6:6, 6:65, 6:71, 8:27, 8:31, 12:33, 4:33, 4:42, etc.

creram] A construção é diferente (ἐπίστευσαν τῇ γραφῇ) da do versículo 11: confiaram na Escritura como absolutamente verdadeira. Compare 4:50, 5:46, 5:47, 20:9.

na Escritura] A expressão “a Escritura” ocorre mais dez vezes em João, sempre com referência a uma passagem específica, menos em 17:12 e 20:9. Pela tendência do apóstolo, deve-se supor referência a um texto definido, provavelmente Salmo 16:10.

na palavratinha lhes dito] a revelação que João acaba de registrar, não um mero dito isolado, mas uma mensagem abrangente.

Os Sinópticos narram uma purificação do templo no dia da entrada triunfal, antes da última Páscoa (Mateus 21:12 e seguintes; Marcos 11:15 e seguintes; Lucas 19:45 e seguintes). Não há vestígio disso em João (12:12 e seguintes), e os Sinópticos nada dizem de uma purificação anterior. Supõe-se que o evento tenha sido transposto nos Sinópticos por não registrarem o ministério de Jesus em Jerusalém antes da última viagem; mas a comparação mostra diferenças.

  1. O contexto exato do evento é detalhado em ambos.
  2. Palavras justificando o ato diferem: Marcos 11:17; João 2:16.
  3. O caráter das ações é distinto: João mostra afirmação independente de autoridade; os Sinópticos, resposta à aclamação popular.
  4. Em João, a purificação é um ato único; nos Sinópticos, parte de política continuada (Marcos 11:16).
  5. O relato posterior não menciona as palavras notáveis (2:19), embora saibam delas (Mateus 26:61; Marcos 14:58).

Não há, por outro lado, improbabilidade em um evento ter ocorrido duas vezes. Em cada caso, a purificação ocorreu em ligação imediata à revelação de Jesus como Messias: no início e no fim do ministério. Entre esses momentos, Ele cumpriu o papel de profeta. No início, a questão estava em aberto; no fim, decidida — e disso decorre a diferença nos detalhes dos relatos. Por exemplo, “casa de oração para todos os povos” ganha força diante da rejeição dos judeus, ausente no início do ministério, quando Ele entra como Filho em “a casa de seu Pai”. De novo, “casa de comércio” no início se transforma em “covil de salteadores” no fim.

Admitindo os dois episódios, vê-se por que João narra o do começo, marco na separação entre fé e incredulidade, enquanto os Sinópticos, devido à estrutura narrativa, registram o último. O segundo, por sua vez, já estava virtualmente incluído no primeiro. [Westcott, ⚠️ comentário aguardando revisão]

< João 2:21 João 2:23 >

Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.