Apocalipse 8:2

E eu vi os sete anjos, que estavam diante de Deus; e foram-lhes dadas sete trombetas.

Comentário de Plummer, Randell e Bott

Os versículos 2-6 formam um prefácio à visão das trombetas, e servem tanto para conectar essa visão ao que veio antes, quanto para indicar a causa dessa nova revelação. A série de mistérios abrangidos pelos selos está completa, e até aqui cumpriu seu propósito, que é fortalecer a paciência dos santos mediante a certeza da providência de Deus e sua vitória e recompensa finais. Mas esta é apenas uma parte da missão do vidente; há não apenas uma mensagem de encorajamento aos fiéis, mas um aviso para os mundanos e apóstatas. Sem dúvida, o mesmo terreno é coberto em certa medida por ambos os anúncios; pois o que é esperança para os justos é juízo para os ímpios. Mas, enquanto, na visão dos selos, o castigo dos ímpios ocupa um lugar secundário, sendo introduzido apenas para demonstrar a proteção de Deus aos justos, na visão das trombetas a destruição dos ímpios é o tema principal, tendo por objetivo, como as denúncias dos profetas antigos, servir de aviso aos que estão no pecado, se porventura ainda possam ser salvos. Pode-se dizer, de fato, que é uma resposta ao clamor de Apocalipse 6:10: “Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” A mesma demora longânima na vingança leva o “insensato” a dizer em seu coração: “Não há Deus.” Enquanto, pela visão dos selos, Deus cuida para não quebrar o caniço rachado, na visão das trombetas ele concede um chamado àqueles menos merecedores de sua consideração e misericórdia.

(1) As trombetas, então, formam uma série de visões denunciando os juízos de Deus contra os ímpios.

(2) Elas constituem uma visão independente, e não decorrem do sétimo selo, no sentido de retratar o que deveria ser revelado sob esse selo. O número sete, tanto nos selos quanto nas trombetas, indica a natureza completa de cada série, o que é demonstrado também pelo caráter geral delas.

(3) Os incidentes descritos são simultâneos aos dos selos; isto é, referem-se à história da humanidade desde o início até o fim dos tempos e o início da eternidade.

(4) Assim como nos selos, são indicações gerais dos juízos de Deus; e embora certos eventos possam ser cumprimentos parciais, o cumprimento completo ocorre em todo o tempo.

(5) Em seus aspectos gerais, há semelhanças e diferenças quando comparados aos selos.

(a) Podem ser divididos em grupos de quatro e três. Em ambas as visões, o primeiro grupo de quatro trata mais diretamente do mundo natural, o último grupo de três tem maior relação com a vida espiritual.

(b) Terminam de maneira semelhante, na vitória dos remidos, que cantam louvores a Deus.

(c) Em ambas, há maior elaboração ou episódio após a sexta revelação.

(d) A natureza do sétimo selo não é revelada, e isso é, em certa medida, paralelo nas trombetas pelo silêncio a respeito do terceiro e último ai.

(e) Em conformidade com o propósito geral das trombetas, não há garantia prévia de vitória como no primeiro selo; isso é reservado para o final.

(6) Várias razões podem ser sugeridas para o uso da figura das trombetas para anunciar cada visão.

(a) Era o instrumento usado entre os israelitas para reunir o povo, tanto para fins bélicos quanto pacíficos (cf. Números 10:1, 9, 10).

(b) Estava, assim, intimamente ligado a proclamações solenes ou à entrega das mensagens de juízo ou advertência de Deus, sendo assim usado no Novo Testamento para descrever o dia do juízo (cf. Levítico 25:9; Amós 3:6; 1Coríntios 15:52; 1Tessalonicenses 4:16).

(c) O uso de trombetas por sete dias na destruição de Jericó, tipo de tudo que é mundano, pode ter sugerido a forma da visão aqui, no anúncio do juízo e destruição do mundo.

E eu vi os sete anjos, que estavam diante de Deus; e foram-lhes dadas sete trombetas. “E vi” introduz a nova visão, como em Apocalipse 5:1; 6:1, etc. Provavelmente não durante o silêncio (como Alford), mas posteriormente. “Os sete anjos” provavelmente se refere a uma ordem particular de anjos, ou àqueles com missão especial; contudo, com nosso conhecimento limitado, é impossível determinar exatamente quem são ou qual é sua missão. A passagem em Tobias 12:15 é tão semelhante que logo vem à mente: “Eu sou Rafael, um dos sete santos anjos que apresentam as orações dos santos.” Mas aqui os sete não apresentam as orações dos santos, outro anjo o faz (versículo 3). De Wette e outros pensam que os sete são arcanjos (cf. 1Tessalonicenses 4:16: “com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus”). Arethas, Ewald, etc., identificam-nos com “os sete Espíritos de Deus” (Apocalipse 1:4; 4:5; 5:6). Outros entendem que os sete se distinguem dos outros anjos apenas por serem os sete que tocam as trombetas, assim como outros quatro são mencionados em Apocalipse 7:1. (Sobre o uso do número sete, veja acima; também em Apocalipse 1:4; 5:1, etc.) [Plummer, Randell e Bott, 1909]

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Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.