Mateus 16:18

E eu também te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do Xeol não prevalecerão contra ela.

tu és Pedro. No original grego Petros; aramaico, Kephas. Jesus havia dado esse nome a Pedro na primeira conversa que tiveram (Jo 1:42), e agora o confirma solenemente.

e sobre esta pedra. No original grego petra. Como a palavra grega é diferente aqui, a maioria dos comentaristas antigos negam que Pedro seja a rocha. O católico romano Launoy (1603-1678) calcula que dezessete Pais consideram Pedro como a rocha; quarenta e quatro consideram a confissão de Pedro como a rocha; dezesseis consideram o próprio Cristo como a rocha; enquanto oito são de opinião que a Igreja é construída sobre todos os apóstolos. Assumindo, porém, com a maioria dos comentadores modernos que Pedro é a rocha, a interpretação continua a ser quase a mesma, pois é sobre Pedro, como confessando a fé na divindade de Cristo, que a Igreja é fundada.

A pergunta seguinte é: “A promessa foi feita exclusivamente a Pedro ou Cristo se dirigiu a Pedro como o representante dos Doze, com a intenção de dar a todos os homens os mesmos poderes que Ele deu a Pedro?” Não há dúvidas quanto a resposta. O texto inteiro fala do futuro. Cristo diz que não “eu edifico” mas “eu edificarei”; não “eu dou”, mas “eu darei”, referindo sempre a um cumprimento futuro. O resto do Novo Testamento mostra em que sentido as palavras de Cristo devem ser entendidas. Na noite do dia de Páscoa Ele cumpriu a Sua promessa a Pedro, dando a todos os Apóstolos presentes poderes ainda maiores do que aqueles que estão aqui prometidos: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio”. E com isso, soprou sobre eles e disse:”Recebam o Espírito Santo. Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados” (Jo 20:21-23). Nenhum poder de qualquer tipo foi dado a Pedro, que não foi dado igualmente a todos os apóstolos, e em harmonia com isso todos os Apóstolos são considerados conjuntamente no Novo Testemunho como o fundamento sobre o qual a Igreja é construída (Mateus 19:28; Efésios 2:20; Apocalipse 21:14).

A posição de Pedro na Igreja Apostólica era totalmente diferente da de um Papa moderno. Em Atos 11:2, ele é fortemente criticado por sua conduta na questão de Cornélio e faz sua defesa perante a Igreja. No conselho de Jerusalém (Atos 15), ele desempenha um papel bastante subordinado. É Tiago quem preside e pronuncia a decisão, e o decreto é executado em nome dos apóstolos e anciãos. Paulo reivindica uma autoridade igual e independente da de Pedro. Ele se considera “em nada…inferior aos mais excelentes apóstolos” (2Coríntios 11:5), e em uma ocasião memorável resiste a Pedro e o repreende (Gálatas 2:11). Além disso, o tom da primeira e certamente genuína epístola de S. Pedro é completamente impapal.  “Aos anciãos da igreja que estão entre vós, eu, que sou ancião como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante da glória que se revelará, seriamente peço” (1Pedro 5:1).

Qual era então a natureza da primazia que Pedro possuía? Era uma primazia de carácter e capacidade pessoais. Ele superou os outros apóstolos não no cargo, mas no zelo, coragem, prontidão para agir, e firmeza de fé. Ele era o seu líder, porque era o mais apto a liderar. Arriscou-se corajosamente, onde outros hesitavam. E isso explica a peculiaridade desta passagem, que a promessa foi feita, pelo menos na forma, somente a Pedro. Os outros apóstolos já tinham chegado à convicção de que Jesus era o Messias, mas apenas Pedro tinha o grande passo de fé que está implícito no reconhecimento da divindade de Cristo.

“Minha igreja”, com ênfase no Minha, significa que a Igreja não é uma instituição humana, mas uma divina. Nesta passagem, a Igreja é identificada com o Reino dos Céus.

as portas do Sheol – ou seja, a morada dos mortos. Assim como a Igreja é frequentemente representada como uma cidade, aqui o seu grande adversário A Morte é poeticamente representada como uma cidade fortificada com muros e portões.

Duas promessas distintas são feitas aqui:(1) que a Igreja, como organização, será indestrutível. Nenhuma perseguição, ou ataque a Satanás de dentro ou de fora a destruirá, porque a vida que nela está é de Cristo; (2) que os membros individuais da Igreja, unidos a Cristo e partilhando a Sua vida indestrutível, não serão detidos pelo poder da morte, nem vencidos pelo julgamento, mas serão feitos “participantes da herança dos santos na luz”. [Dummelow, 1909]

Comentário de A. T. Robertson 🔒

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< Mateus 16:17 Mateus 16:19 >

Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.