Não fostes vós que me escolhestes, porém eu vos escolhi, e tenho vos posto para que vades, e deis fruto, e vosso fruto permaneça; para que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos dê.
Comentário de Brooke Westcott
O Senhor, tendo apresentado o propósito da alegria cristã por meio da entrega pessoal, baseada em um relacionamento com Ele, mostra como essa alegria pode ser alcançada. A estabilidade da amizade entre o Senhor e Seus discípulos é garantida porque tem sua origem no Senhor e não no homem. Essa manifestação de amor, assim como o amor divino (1 João 4:10), não foi provocada por algo no ser humano, mas foi resultado da graça divina, sendo, portanto, segura.
Não fostes vós que me escolhestes – Ou, mais precisamente, “Não foram vocês que me escolheram como mestre, como é comum os discípulos escolherem seus mestres” – o pronome aparece em destaque no início da frase. Pelo contrário, “eu escolhi vocês como meus amigos”. Essa escolha pode se referir tanto ao discipulado em geral quanto ao apostolado em específico. O uso da palavra em João 6:70 e 13:18 (compare com Atos 1:2), além do contexto em que os onze são vistos como representantes do Senhor em relação à Igreja, favorece a segunda interpretação. O poder do apostolado não estava no fato de que os discípulos haviam escolhido esse ofício por conta própria.
Eu vos escolhi – Refere-se ao fato histórico do chamado (Lucas 6:13; Atos 1:2). Compare com João 6:70.
E vos designei (ordenados, enviados, ἔθηκα, Vulgata: posui) – A palavra indica a designação para uma posição especial, que envolve responsabilidades adicionais (“para que vocês…”). Compare com Hebreus 1:2; Romanos 4:17; 2 Timóteo 1:11.
Para que vós (ὑμεῖς) – O uso enfático do pronome destaca a responsabilidade especial dos apóstolos. Ao mesmo tempo, o verbo “irem” (ὑπάγητε) enfatiza a separação deles de seu Mestre (Mateus 20:4, 20:7) enquanto saem ao mundo como proclamadores do evangelho (Marcos 16:15; Lucas 10:3). Três aspectos de sua missão são mencionados:
- Sua posição independente,
- A eficácia de sua obra,
- O impacto duradouro do que produzem.
Isso contém a promessa da fundação e continuidade da Igreja. Além disso, mesmo na aparente separação, a força do discípulo vem da união com Cristo, retomando por um momento a imagem dos versículos anteriores (“dar fruto”, “fruto que permaneça”).
Para que tudo quanto… – Essa cláusula é, de um lado, subordinada à anterior, e de outro, coordenada com ela. O crescimento da fé resulta da obediência frutífera; por outro lado, a obediência frutífera coincide com o cumprimento da oração.
A aplicação direta dos versículos 15 e 16 aos apóstolos é enfatizada pela repetição do pronome “vós” e “vos” nove vezes. No entanto, as palavras também se aplicam a todos os discípulos, representados pelos onze.
Tudo quanto pedirdes ao Pai – As condições da oração já mencionadas (João 15:7) são apresentadas sob uma nova perspectiva. Antes, a oração era vista como um eco das palavras de Cristo. Aqui, ela flui da nova relação com o Pai, revelada pelo Filho (“em meu nome”). Compare com João 16:26. Há uma diferença adicional entre essa promessa e a de João 14:13-14. Lá, a resposta à oração era expressa como “eu o farei”, enfatizando a ação de Cristo. Aqui, é dito “para que Ele vos conceda”, destacando o privilégio do crente. Cristo realiza a obra, mas através do discípulo, que recebe o necessário para cumprir a vontade do Senhor (João 16:23).
Em meu nome – Veja João 14:13. Essa expressão define o verdadeiro objetivo da oração: o que é espiritual e eterno, e não meramente passageiro. Compare com 1 João 5:14-15: “Pedimos em nome do Salvador o que está relacionado à salvação” (Agostinho). [Westcott, aguardando revisão]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.