Havendo eles pois já jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão filho de Jonas, tu me amas mais do que estes outros? Disse-lhes ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Alimenta meus cordeiros.
Comentário de Brooke Westcott
Assim que terminaram a refeição (café da manhã)… Depois da refeição comum, seguiu-se naturalmente uma instrução pessoal.
Disse a Simão Pedro: “Simão, filho de Jonas (ou João, como nos versículos 16 e 17; veja João 1:42, nota)”. O contraste dos nomes é significativo. A repetição dessa forma de chamá-lo lembra as primeiras palavras que Jesus dirigiu a Pedro (João 1:42), quando lhe deu o sobrenome Cefas (Pedro). Porém, é notável que Jesus nunca chama Pedro pelo seu novo sobrenome, e nem Paulo usa a forma grega do nome (Pedro), mas apenas Cefas. Por outro lado, o nome Pedro é usado com frequência sozinho ou junto com Simão na narrativa dos Evangelhos, sempre na forma grega. Essa variação no uso do nome, que corresponde exatamente às circunstâncias em que o título foi dado, é um forte indício da precisão dos registros, especialmente da exatidão das palavras de Jesus (Mateus 16:17, 17:25; Marcos 14:37; Lucas 22:31; compare com Atos 10:5 e seguintes).
Filho de Jonas (ou João) – Mencionar a origem natural de Pedro aqui (compare com João 1:42; Mateus 16:17) parece chamar atenção para ele primeiramente como homem em sua plenitude natural, antes de destacá-lo como apóstolo.
Amas-me mais do que estes? – Ou seja, mais do que os teus companheiros me amam? Provavelmente Jesus se refere às palavras de Pedro (João 13:37; Mateus 26:33), quando ele afirmou ser mais devotado que os outros discípulos. No relato de Mateus, essa declaração aparece logo antes da promessa de Jesus de se manifestar na Galileia após a ressurreição, o que torna a pergunta ainda mais forte. Não faz sentido supor que “estes” se refira a objetos, como redes ou barcos de pesca.
Amas (ἀγαπᾷς, Vulgata: diligis) – A base do chamado apostólico é o amor, não a fé. O amor verdadeiro (ἀγάπη) inclui a fé (compare com 1Coríntios 13:13).
Sim, Senhor… – Pedro, em sua resposta, afirma seu apego pessoal ao Senhor, apelando para o conhecimento direto que o Senhor tem dele. No entanto, sua profissão de amor difere em dois pontos importantes da pergunta feita. Ele não assume superioridade sobre os outros (não diz “mais do que estes”) e se limita a afirmar apenas o sentimento de amor natural (φιλῶ σε, Vulgata: amo te), do qual ele tem certeza. Ele não ousa dizer que alcançou aquele amor mais elevado (ἀγαπᾷν) que deveria ser a base da vida cristã (João 13:34, 14:15, 14:21, 14:28, etc.). Além disso, agora ele não fala sobre o futuro ou sobre como sua dedicação será manifestada (João 13:37). Compare com Bernard, ‘Serm. de div.’ 29. final.
Tu sabes (ênfase) – A experiência ensinou a Pedro a não confiar em seu próprio julgamento sobre si mesmo. Mesmo quando o fato é de consciência imediata, ele baseia sua afirmação no conhecimento direto do Senhor.
Apascenta meus cordeiros – Em resposta à confissão sincera de Pedro, Jesus lhe dá uma missão, mostrando que aceita sua resposta. O privilégio e o dever do amor são os mesmos. Aqui, a metáfora muda: de pescador, Pedro agora recebe a tarefa de pastor. Aqueles que foram resgatados das “muitas águas” precisam ser cuidados e alimentados. O trabalho pastoral confiado a Pedro aparece sob três aspectos diferentes, e o primeiro é o mais simples e humilde: os pequeninos no rebanho de Cristo precisam de sustento, pois não podem consegui-lo sozinhos.
Apascenta – O verbo original (βόσκειν), que também aparece no versículo 17, só é usado no Novo Testamento para se referir a alimentar animais, geralmente porcos (Mateus 8:30, 8:33; Marcos 5:11, 5:14; Lucas 8:32, 8:34, 15:15). Diferente do termo que aparece no versículo 16 (ποιμαίνειν), que tem um sentido mais amplo de cuidar, βόσκειν foca na provisão de alimento. [Westcott, aguardando revisão]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.