Bispo

Bispo vem do grego episkopos e também aparece no latim como episcopus.

Uso no Antigo Testamento e no grego clássico

Na Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento), esse termo aparece com o sentido geral de supervisão, inspeção ou cuidado em áreas como religião, governo e até no exército (ver Números 4:16; 31:14; Juízes 9:28; 2Reis 12:11; 2Crônicas 34:12-17). O termo também não era desconhecido no grego clássico. Homero, por exemplo, usou essa palavra na Ilíada (canto 22, verso 255) ao se referir aos deuses. Plutarco também a utilizou (em Camillus, capítulo 5). Em Atenas, os governantes de estados conquistados eram chamados por esse nome.

Uso no Novo Testamento

A palavra “bispo” é usada uma vez para se referir ao próprio Cristo: “o Pastor e Bispo das vossas almas” (1Pedro 2:25). Ela aparece com frequência nas cartas de Paulo e é usada como sinônimo de presbítero ou ancião (ver Tito 1:57; 1Timóteo 3:1; 4:14; 5:17,19). Os primeiros cargos da igreja primitiva foram o de presbíteros e diáconos — ou melhor dizendo, os diáconos surgiram primeiro devido às necessidades práticas da comunidade cristã em Jerusalém (Atos 6:1-6).

A estrutura presbiteral em Jerusalém era muito antiga (Atos 11:30) e distinta do grupo dos apóstolos (Atos 15:2,4,6,22,23; 16:4). Já por volta do ano 50 d.C., Paulo designava presbíteros em cada igreja, com jejum e oração (Atos 14:23), especialmente nas igrejas da Ásia. Mas ao escrever aos filipenses, ele menciona “bispos” e “diáconos” (Filipenses 1:1), indicando que nas igrejas gentílicas o título de “bispo” já havia sido adotado, é só nas chamadas Epístolas Pastorais que o termo “presbítero” é aplicado. “Presbítero” ou “ancião” era um termo familiar aos judeus, indicando respeito pela idade e posição na comunidade. Já “bispo” se refere mais à função ou cargo. Mas, mesmo assim, os dois termos se referem às mesmas pessoas.

A função deles incluía “governar” (Romanos 12:8), “supervisionar” (Atos 20:1728; 1Pedro 5:2) e cuidar do rebanho de Deus (Atos 20:28). A palavra grega archein (governar com autoridade hierárquica) nunca é usada para descrever esses líderes. Cada igreja local contava com um grupo (ou colegiado) de presbíteros-bispos (Atos 20:1728; Filipenses 1:1; 1Timóteo 4:14).

Durante a vida de Paulo, a igreja ainda não fazia distinção clara entre presbíteros e bispos.

Não há qualquer sinal de uma ordenação formal no sentido hierárquico que surgiu mais tarde. A palavra “ordenado”, usada na versão King James (Atos 1:22), é uma inserção indevida, que foi corrigida corretamente na Versão Revisada Britânica e Americana. Nem a palavra grega cheirotoneo (usada em Atos 14:23 e traduzida como “designar” na American Standard Version), nem kathistemi (usada em Tito 1:5 e também traduzida como “designar”) podem ser traduzidas com precisão como “ordenar”. Ao traduzir essas palavras sempre como “ordenar”, a versão King James comete um erro de origem (vitium originis). Ninguém duvida de que a ideia de ordenação seja muito antiga na história da igreja, mas a imposição de mãos, mencionada no Novo Testamento (Atos 13:3; 1Timóteo 4:14; 2Timóteo 1:6; comparar com Atos 14:26; 15:40), aponta mais para a transmissão ou invocação de um dom espiritual do que para a concessão de um cargo oficial.

Desenvolvimento posterior da ideia

Segundo a tradição da Igreja de Roma — como afirmado oficialmente no Concílio de Trento — e também segundo a visão episcopal em geral, a estrutura hierárquica da igreja (com bispos acima dos presbíteros) já existiria desde o começo da igreja no Novo Testamento. No entanto, além dos textos bíblicos já citados, os testemunhos mais antigos da igreja apontam que “presbíteros” e “bispos” eram na verdade o mesmo grupo de líderes.

Clemente de Roma (na sua Primeira Epístola, capítulos 42, 44 e 57), a Didaquê (capítulo 15), e talvez as Constituições Apostólicas (livro 2, capítulos 33 e 34), ao usarem a forma plural, mostram que os termos “presbítero” e “bispo” eram usados para se referir ao mesmo cargo. Irineu (Contra as Heresias, livro 3, capítulos 2 e 3), Ambrosiáster (comentando 1Timóteo 3:10 e Efésios 4:11), e João Crisóstomo (Homilia 9 sobre 1 Timóteo), afirmam claramente que “os presbíteros antigos eram chamados bispos… e os bispos, presbíteros”. Jerônimo também declara de forma inequívoca: “o presbítero é o mesmo que o bispo” (Comentário sobre Tito 1:7).

Essa visão era sustentada por Agostinho e outros Pais da Igreja dos séculos IV e V — até mesmo por Pedro Lombardo, que foi o principal teólogo da igreja antes de Tomás de Aquino na Idade Média.

Apesar de todos esses testemunhos, estudiosos como Hatch (de Oxford) e Harnack (de Berlim) defenderam uma distinção: presbíteros seriam responsáveis pela lei e disciplina da igreja, e os bispos, pelo cuidado pastoral, pregação e culto. No entanto, essa teoria se baseia mais em condições sociais da época, que foram adotadas pela igreja, do que em provas claras dos textos bíblicos.

A distinção entre presbíteros e bispos só pode ser mantida com uma interpretação forçada das Escrituras. A ideia hierárquica cresceu rapidamente depois, influenciada pela visão cristã ebionita, que via a igreja como uma continuação obrigatória do sistema do Antigo Testamento. Essa visão moldou profundamente o desenvolvimento interno da igreja nos primeiros seis séculos de sua existência. [Henry E. Dosker, Orr, 1915]