As ciências ocultas, supostamente ou pretensamente sobrenaturais, eram comuns entre todos os povos orientais. Elas incluíam encantamento, feitiçaria, bruxaria, adivinhação, augúrio, necromancia, e diversas formas de magia. Um único trecho do Pentateuco menciona nove dessas práticas (Deuteronômio 18:10–11), mas há muitas outras referências no Antigo e no Novo Testamento (Levítico 19:26, 31; Isaías 2:6; 57:3; Jeremias 27:9; Miquéias 5:12; Atos 8:9, 11; 13:6, 8; Gálatas 5:20; Apocalipse 9:21).
A abrangência das ciências ocultas
A extensão das ciências ocultas (proibidas no judaísmo) era ampla, como indicam as Escrituras, que as registram em locais como: Caldeia (Daniel 5:11), Babilônia (Ezequiel 21:21), Assíria (2Reis 17:17), Egito (Êxodo 7:11), Canaã (Levítico 18:3, 11; 19:26, 31), Ásia (Éfeso, Atos 19:13, 19), Grécia (Atos 16:16) e Arábia (Isaías 2:6).
Essas práticas eram proibidas pelas leis de Moisés (Deuteronômio 18:9–12), pois levavam o povo à apostasia, incentivavam a idolatria, promoviam superstições, e estavam ligadas a enganos e fraudes (Mateus 24:24).
Termos hebraicos e suas variações
latim e lehatim
Significam “envolver”, “encobrir”, “esconder”. Referem-se à natureza oculta das práticas mágicas, como as realizadas pelos magos do Egito que tentaram imitar os milagres de Moisés e Arão (Êxodo 7:11, 22). Sua incapacidade de realizar milagres verdadeiros é demonstrada em Êxodo 8:18.
nachash
Literalmente “assobiar” ou “sussurrar”, remete ao som dos encantamentos. Também significa “serpente”, indicando astúcia. Embora o termo tenha sido usado num sentido mais amplo de augúrio ou prognóstico, seu significado fundamental é adivinhação por meio de serpentes. Foi essa a forma de encantamento buscada por Balaão (Números 24:1). Sua impotência diante do povo de Deus é demonstrada em Números 23:23. O rei Salmaneser impôs essa prática proibida aos israelitas que ele levou cativos para a Assíria (2Reis 17:17). Essa também foi uma das práticas pagãs introduzidas durante a apostasia sob o reinado de Acabe, contra a qual Elias protestou (1Reis 21:20).
lachash
Outro termo que significa “sussurrar”, de origem onomatopeica, imitando o som de serpentes. Relaciona-se ao encantamento de serpentes (Eclesiastes 10:11; Isaías 3:3; Jeremias 8:17; Salmo 58:4–5). O encantamento de serpentes (ofiomancia) ainda é praticado no Oriente.
chebher
Derivado de chabhar, “amarrar”. Refere-se a “amarrar com feitiços”, como descritivo da uma espécie de magia praticada por nós amarrados. Que esse método de engano — por exemplo, o uso do nó mágico para exorcismo e outros propósitos — era comum, é indicado pelos monumentos do Oriente. O dano moral e a inutilidade dessa e de outras formas de encantamento são claramente demonstrados em Isaías 47:9 e Isaías 47:12. Essa palavra também é usada em referência ao encantamento de serpentes (Deuteronômio 18:11; Salmo 58:5).
‘anan
Significa “cobrir”, “nublar”, e é associado a práticas ocultas. Essa forma de adivinhação estava especialmente associada à idolatria (segundo Gesenius, Hebrew Lexicon). Delitzsch, no entanto, em uma nota sobre essa palavra (Isaías 2:6), questiona o significado de “ocultar” e propõe que o termo signifique, na verdade, “recolher presságios a partir das nuvens”. Ele a traduz como “intérprete das nuvens” (Miquéias 5:12). Essa interpretação, contudo, não é amplamente aceita. A palavra é traduzida como “encantadores” (Jeremias 27:9; o mesmo ocorre em Isaías 2:6). Frequentemente é traduzida como “fazer adivinhações”, como em Levítico 19:26; Deuteronômio 18:10, 14; 2Reis 21:6; 2Crônicas 33:6. Trata-se de uma forma de arte mágica que, em muitos aspectos, corresponde à do mantis grego, que proferia oráculos em estado de frenesi divino. A Septuaginta traduz com kledonizomai, ou seja, adivinhação por meio da leitura ou aceitação de um sinal ou presságio.
Magos e impostores no Novo Testamento
Uma forma semelhante de encantamento é mencionada no Novo Testamento (2Timóteo 3:13; do grego goêtes, “encantadores”, “ilusionistas”), sendo que o termo original indica que as encantações eram proferidas com uma espécie de uivo. O Novo Testamento menciona magos que se enquadram como impostores conscientes:
- Simão, o Mago (Atos 8:9)
- Bar-Jesus e Elimas (Atos 13:6, 8)
- A jovem possessa com espírito de adivinhação (Atos 16:16)
- Judeus exorcistas itinerantes (Atos 19:13; Lucas 11:19)
- Jambres e Janes, magos contemporâneos de Moisés (2Timóteo 3:8)
O impacto espiritual das ciências ocultas
Todas essas formas de encantamento reivindicavam acesso ao mundo espiritual, à vontade dos deuses ou aos segredos do mundo espiritual. Ao desviar a fé e a esperança do Deus vivo, essas práticas atingem o âmago da verdadeira religião. Desde os encantadores do Oriente antigo até os curandeiros dos tempos atuais, todos os praticantes das chamadas “ciências ocultas” acabam exercendo uma influência nociva sobre aqueles que carecem de orientação, e muitos sofrem profundamente, tanto no corpo quanto na alma, por causa desses enganos sutis. Em nenhum outro aspecto se revela tão claramente a grandeza da fé hebraica e cristã quanto em sua capacidade de libertar a mente e o espírito humanos da escuridão moral e intelectual, da superstição, do medo e dos efeitos negativos dessas práticas ocultas. [Dwight M. Pratt, Orr, 1915]