Bíblia

Bíblia  é a forma em português do nome grego Biblos, que significa “livro”. Este foi o nome que começou a ser dado a toda a coleção de livros sagrados no século 5 d.C. A Bíblia consiste em sessenta e seis livros diferentes, compostos por muitos escritores, em três línguas, em diferentes circunstâncias; escritores de quase todos os níveis sociais: estadistas, camponeses, reis, pastores, pescadores, sacerdotes, coletores de impostos, fabricantes de tendas, educados e sem instrução, judeus e gentios; a maioria desconhecida entre si e escrevendo em vários períodos no espaço de cerca de 1500 anos; e, afinal, é apenas um livro que lida com apenas um sujeito em seus inúmeros aspectos e relações, o assunto da redenção do ser humano.

Divisão da Bíblia

Os livros da Bíblia são organizados em dois grupos: Antigo e Novo Testamento. Os livros do Antigo Testamento foram escritos pela comunidade judaica entre 1400 – 400 a.C. As obras do Novo Testamento foram escritas por cristãos no I século.

Testamento seria melhor traduzido como “aliança”. O Antigo foi a aliança de Deus com o povo judeu e o Novo foi a aliança de Deus com os cristãos.

Livros do Antigo Testamento

O Antigo Testamento consiste nos livros aceitos pela comunidade judaica como inspirados. Os livros podem ser organizados em quatro categorias:

Pentateuco (“cinco rolos” em grego) ou livros da Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Livros históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.

Livros poéticos ou de sabedoria: , Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos.

Livros proféticos: Os livros proféticos são organizados em dois grupos menores.

Livros do Novo Testamento

O Novo Testamento consiste nos livros aceitos como inspirados pela comunidade cristã dos primeiros séculos. Os livros podem ser organizados em cinco categorias:

Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.

Livro histórico: Atos dos Apóstolos.

Epístolas paulinas: Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemom.

Epístolas gerais: Hebreus, Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João e Judas.

Profecia: Apocalipse.

Inspiração da Bíblia

O que torna a Bíblia um livro diferente dos outros já escritos, não é sua idade, autores ou estilo literário, mas sim o entendimento que ela foi inspirada por Deus. A inspiração foi o processo que Deus usou para transmitir sua vontade através dos homens.

Afirmar que a Bíblia foi inspirada por Deus não significa dizer que Deus ditou cada palavra que está escrita uma a uma e os homens foram apenas secretários transcrevendo aquilo que ouviam (embora em algumas partes tenha sido assim mesmo, como no caso de alguns profetas). A inspiração da Bíblia foi o processo em que o Espírito Santo soprou suas palavras ao coração dos autores bíblicos e eles vestiram essas palavras com seus vocabulários e estilos literários.

História da Bíblia

Os livros eram escritos em pergaminho (pele de animal) e papiro, um tipo de papel feito de fibras vegetais (veja neste vídeo como o papiro era feito).

Antigo Testamento (anos aproximados 1400 a 400 a.C.)

O Antigo Testamento possui 39 livros escritos por mais de 30 autores inspirados: profetas, juízes, poetas e reis. Originalmente escrito em hebraico com alguns trechos dos livros de Esdras e Daniel em aramaico. Teve sua autenticidade reafirmada através dos manuscritos achados no Mar Morto em 1947.

🔗 Assista a exposição (58 minutos) do pastor batista Luiz Sayão (linguista, teólogo e hebraísta) sobre a história e a importância do descobrimento dos Manuscritos do Mar Morto.

Septuaginta (ano aproximado 300 a.C.)

Tradução do Antigo Testamento para a língua grega com o propósito de disponibilização dos escritos na Biblioteca de Alexandria (Egito). Segundo a lenda, 72 rabinos fizeram a tradução em 72 dias. Além dos 39 livros conhecidos, esta tradução possui o acréscimo de 7 livros: Tobias, Judite, 1 Macabeus, 2 Macabeus, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico e Baruque.

Novo Testamento (anos aproximados 42 a 90 d.C.)

O Novo Testamento possui 27 livros e cartas escritas na língua grega por 7 autores inspirados: apóstolos de Jesus e pessoas ligadas diretamente a eles. Centenas de livros apócrifos foram escritos nos primeiros séculos, mas não foram reconhecidos pela igreja pelo seu caráter duvidoso (Evangelho de Judas Iscariotes, Maria Madalena, Tomé…).

Vulgata (ano 385 d.C.)

A Vulgata foi a tradução dos livros do Antigo e Novo Testamento para o latim feita por Jerônimo, um importante monge e comentarista bíblico. Os livros foram traduzidos dos originais (grego, hebraico e aramaico), porém os livros escolhidos seguiram o critério (cânon) da Septuaginta, ou seja, 73 livros.

Em 1546 no Concílio de Trento em resposta a Reforma Protestante, a tradução Vulgata se torna a Bíblia oficial da Igreja Católica Romana, assim como a celebração das missas em latim.

Organização em capítulos (ano 1227)

Com o propósito de tornar o manuseio da Bíblia mais fácil o professor Stephen Langton inseriu os capítulos em 1227. Somente em 1551 a Bíblia foi organizada em versículos pelo impressor Robert Stephanu. Os títulos são inseridos neste tempo.

Bíblia de Gutenberg (ano 1455)

Até este momento, todos os escritos eram copiados a mão, mas através da criação de Johann Gutenberg era possível serem feitas diversas cópias em um curto espaço de tempo. Seu primeiro trabalhou foi a impressão de 145 cópias da Bíblia em latim que ficou conhecida como Bíblia de Gutenberg.

Bíblia em Latim impressa por Gutenberg (1455). Foto: NYC Wanderer (Kevin Eng)

Textus Receptus (ano 1516)

Até então, todos os estudos eram feitos a partir da Vulgata, mas Erasmo de Roterdã um teólogo católico decidiu tornar acessível os escritos da Bíblia em sua língua original. Foram utilizados mais de 5000 manuscritos para formação do texto que ficou conhecido como Textus Receptus que posteriormente foi usado na tradução da Bíblia para diversos idiomas, inclusive a versão em português.

Diversos erros da tradução Vulgata que influenciaram os dogmas da Igreja Católica foram identificados a partir do Textus Receptus, um deles foi a penitência. Erasmo denunciou a Igreja e seus livros foram inclusos na lista de livros proibidos da Igreja Católica no Concílio de Trento.

🔗 O Textus Receptus é de grande importância para a Igreja, mas não deve ser tido como infalível. Veja as cinco péssimas razões para usar o Textus Receptus expostas por James Snapp Jr.

Bíblia de Lutero (ano 1534)

Devido o entendimento que a Bíblia deveria estar acessível ao povo Martinho Lutero publicou em 1534 a mais importante tradução da Bíblia para o alemão, feita a partir dos originais (Textus Receptus).

Sua tradução foi importante também pois ele foi o primeiro a se posicionar contra os 7 livros que não estavam na Bíblia Judaica.

João Ferreira de Almeida (ano 1681)

Pastor, missionário e tradutor da Bíblia, João Ferreira de Almeida nasceu em 1628 em Portugal e converteu-se ao protestantismo com 14 anos. Com apenas 16 anos, traduziu algumas partes do Novo Testamento para atender à necessidade de igrejas locais.

Mais tarde, Almeida começou uma nova tradução do Novo Testamento, a partir do Textus Receptus que foi publicada em 1681. Morreu antes de terminar a tradução do Antigo Testamento (parou em Ezequiel 48.21) e somente em 1819 foi publicada uma versão completa da tradução da Bíblia para o português.

Hoje (ano 2017)

A Bíblia é o livro mais traduzido do mundo, sua tradução completa já está disponível em 436 idiomas. Idiomas que possuem somente o Novo Testamento são 1115 e ainda existem 4500 idiomas e dialetos ainda não foram alcançados. Calcula-se que mais de 3 bilhões de bíblias já foram impressas no mundo, sendo que 50 bíblias são vendidas por minuto. Glória a Deus!

Bíblias adulteradas

A Tradução do Novo Mundo foi publicada em 1961 para sustentar a teologia das Testemunhas de Jeová. Por exemplo Jo 1:1 No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era um deus.

A tradução The Queen James Bible (LGBT) foi publicada com uma reedição nos textos que condenam práticas sexuais dos homossexuais.

Interpretação da Bíblia

Interpretar é tornar claro o sentido algo. Lemos e interpretamos a Bíblia pois ela é a palavra de Deus para nós, mas primeiramente, ela é a Palavra de Deus que foi dirigida a homens e mulheres, cada um ao seu tempo, no decorrer dos 1500 anos em que os livros que a compõe foram escritos. Por isso, quando vamos estudá-la precisamos ter alguns cuidados para que aquilo que entendemos esteja alinhado vontade de Deus para nós.

Para compreender com mais clareza as escrituras, precisamos pensar como os primeiros leitores entenderam as Escritura Sagradas. Aí que está o desafio. A Bíblia foi escrita a milhares de anos, em idiomas diferentes e uma cultura totalmente desconhecida para nós. Por isso, é sempre aconselhável consultar bons dicionários, enciclopédias e comentários bíblicos em nossos estudos, mesmo quando achamos que já entendemos algum ponto das Escrituras. Esses recursos nos ajudam mergulhar mais fundo na compreensão daquilo que era o propósito inicial da mensagem.

Existem algumas versões da Bíblia que oferecem interpretações mais alinhadas com nosso tempo e que facilitam o entendimento, como a Bíblia Viva e a NTLH. Estas são muito úteis, porém, como são interpretações precisam ser usadas com cuidado pois estão influenciadas pela visão do seu tradutor. Para o estudo da Bíblia é sempre recomendado as traduções mais próximas do original, como a papular de João Ferreira de Almeida e também a NVI.

A Bíblia é a revelação da vontade de Deus para as nossas vidas, por isso precisamos nos esforçar para compreendê-la e nos dedicarmos em cumpri-la. Com boas ferramentas, oração e um coração sincero ouviremos e seguiremos a Palavra de Deus assim como os primeiros cristãos.

🔗 O tema da interpretação correta da Escritura está presente na Igreja desde o seu início. Caso você tenha interesse de conhecer mais detalhes desta história e os debates envolvidos, recomendo um excelente palestra (dividida em duas partes) do Rev. Augustos Nicodemus: assistir parte 1 (97 minutos) e assisitir parte 2 (77 minutos).

Inerrância da Bíblia

Entenda o significado e a importância da doutrina da inerrância da Bíblia através desta aula (54 minutos) produzida pelo Ministério Fiel e apresentada pelo Rev. Augustos Nicodemus.

🔗 Abrir vídeo no YouTube.

Adaptado de: Illustrated Bible Dictionary (Bible)Referências: Dicionário Bíblico: um guia de estudos  e entendimento do livro dos livros, 2010 — João Chinelato Filho. Fazendo Discípulos, 2012 — Antônio Gilberto da Siva. Bibliologia: introdução ao estudo da Bíblia, 2006