Gênesis 15

A aliança de Deus com Abrão

1 Depois destas coisas a palavra do SENHOR veio a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão; eu sou o teu escudo; a tua recompensa será muito grande.

Comentário de Robert Jamieson

Depois destas coisas. A conquista dos reis invasores.

a palavra do SENHOR. Uma frase usada, quando relacionada a uma visão, para indicar uma mensagem profética.

Não temas, Abrão. Quando a excitação da perseguição acabou, Abrão tornou-se presa fácil do desânimo e do terror, diante da provável vingança que poderia ser planejada contra ele. Para dissipar o seu medo, ele foi abençoado com essa palavra gracioso. Tendo tal promessa, quão bem ela lhe serviu (e a todas as pessoas de Deus que têm a mesma promessa) para afastar os temores e lançar todas os fardos sobre o Senhor (Salmo 27:3). [Jamieson; Fausset; Brown]

2 Abrão respondeu: Senhor DEUS, que me darás, sendo que não tenho filho, e o herdeiro da minha casa é Eliézer de Damasco?

Eliézer de Damasco (“damasceno Eliézer” em algumas versões).

Mais comentários 🔒

3 Disse mais Abrão: Eis que não me deste descendência, e eis que meu herdeiro é um nascido em minha casa.

Comentário Cambridge

um nascido em minha casa. A sucessão do chefe da casa sem filhos por um membro de sua família é aqui provavelmente afirmada. Observe que é ignorado. Para a posição favorável de um escravo de confiança em uma casa israelita, compare Gênesis 24; 1Samuel 9:3-8,22; 1Crônicas 2:34 em diante; Provérbios 17:2. [Cambridge]

Mais comentários 🔒

4 E logo a palavra do SENHOR veio a ele dizendo: Esse não será o teu herdeiro, mas sim o que sairá de tuas entranhas será o que de ti herdará.

Comentário Whedon

Este não herdará de ti. Uma resposta assim tão explícita, foi poderosa para dissipar qualquer dúvida e medo. [Whedon]

Mais comentários 🔒

5 E tirou-lhe fora, e disse: Olha agora aos céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E lhe disse: Assim será tua descendência.

Comentário Cambridge

conta as estrelas. Uma expressão proverbial para o infinito e inumerável, como em Gênesis 22:17; 26:4. [Cambridge]

6 E creu ao SENHOR, e contou-lhe por justiça.

Comentário de Robert Jamieson

No original hebraico, “confiou em Yahweh”, como uma criança descansa sobre os braços de seu pai, que a guia e cuida dela. Tal é a importância do termo original. O Guia Divino o conduziu lenta e progressivamente como um pedagogo, e sua fé, ‘simples, elementar, vaga, como provavelmente era’, foi aceita como tendo toda excelência religiosa. O patriarca, em outras palavras, tinha tal fé em Deus que justifica sua pretensão de ser um cristão antecipadamente, o ‘pai dos fiéis'” (Hardwick). Mas como Abrão não é retratado neste colóquio como expressando tal crença, a afirmação deve ser considerada como feita pelo historiador; e se perguntarmos sobre que fundamentos ele a fez, a resposta é, sobre a prontidão com que Abrão cumpriu as instruções divinas, e o consentimento implícito colocado na palavra divina.

Além disso, este ato de fé ocorreu antes que o rito da circuncisão fosse apontado como símbolo da aliança; e a conclusão, portanto, a ser tirada daquela circunstância, como o apóstolo claramente mostra, é que a justiça não é pela lei, mas pela fé (Romanos 10:5-6); e que todos, gentios ou judeus, recebem o dom gratuito da justificação quando creem nas promessas de Deus, que são sim e amém em Cristo (Romanos 4:11,23-25; Gálatas 3:16-17). [JFU]

7 E disse-lhe: Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a herdar esta terra.

Comentário Whedon

que te tirei de Ur dos caldeus. Agora o SENHOR lembra a Abrão o seu passado, e lhe garante a promessa antiga de lhe dar aquela terra em herança. [Whedon]

8 E ele respondeu: Senhor DEUS, com que saberei que a vou herdar?

Comentário Cambridge

com que saberei que a vou herdar? Abrão pede um sinal como garantia do cumprimento da promessa. Compare com a atitude de Gideão, Juízes 6:17, e de Ezequias, 2Reis 20:8. [Cambridge]

9 E lhe disse: Separa-me uma bezerra de três anos, e uma cabra de três anos, e um carneiro de três anos, uma rolinha também, e um pombinho.

Comentário de Robert Jamieson

(9-21) Em ocasiões de grande importância, quando duas ou mais partes fazem um pacto, elas seguem exatamente os mesmos ritos seguidos por Abrão, ou, quando não o fazem, invocam a lâmpada (?) como testemunha. De acordo com essas ideias, que estão gravadas na mente das pessoas do Oriente desde tempos imemoriais, o próprio Senhor condescendeu fazer um pacto com Abrão. O patriarca não passou entre os sacrifícios, e a razão disso foi que, nesta transação, ele não ficou obrigado a nada. Ele pediu um sinal, e Deus teve a bondade de dar-lhe um sinal, pelo qual, de acordo com as ideias do Oriente, Deus Se obrigou. Da mesma forma, Deus fez um pacto conosco; e, na glória do Filho unigênito, que passou entre Deus e nós, todos os que creem têm, como Abrão, um sinal ou garantia no dom do Espírito, pelo qual podem saber que herdarão a Canaã celestial. [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

Os animais listados eram considerados limpos, e segundo a lei, podiam ser sacrificados  (compare Gênesis 7:2; 8:20, com Levitico 1:2-6,14; 12:6-8; Números 6:10). [Jamieson; Fausset; Brown, 1866]

10 E tomou ele todas estas coisas, e partiu-as pela metade, e pôs cada metade uma em frente de outra; mas não partiu as aves.

Comentário de Robert Jamieson

mas não partiu as aves. Como foi depois ordenado na lei mosaica (Levítico 1:15,17). [JFU]

11 E desciam aves sobre os corpos mortos, e enxotava-as Abrão.

Comentário Whedon

E desciam aves. Aves de rapina, tentando devorar as carcaças. Essas aves imundas podem ser consideradas como símbolos dos inimigos da descendência escolhida, e o fato de Abrão as afugentar até que a escuridão da noite viesse, um sinal de que o povo do pacto seria libertado da destruição ameaçada por seus inimigos. Alguns vêem nessas aves de rapina uma tipologia dos egípcios. [Whedon]

12 Mas ao pôr do sol veio o sono a Abrão, e eis que o pavor de uma grande escuridão caiu sobre ele.

Comentário Cambridge

o pavor de uma grande escuridão caiu sobre ele. Uma descrição vívida da sensação de terror, anterior à revelação que iria receber. [Cambridge]

13 Então disse a Abrão: Tem certeza que a tua descendência será peregrina em terra que não é sua, e serão escravizados e afligidos por quatrocentos anos.

Comentário Whedon

a tua descendência será peregrina. A escravidão egípcia é aqui predita. Esse período opressivo, mas importante, na história da semente escolhida, e sua duração, é indicado em números redondos como 400 anos. Em Êxodo 12:40, diz-se que “o tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi 430 anos. Lá temos a declaração exata da história; aqui a mais geral da profecia. [Whedon]

14 Mas também a nação a quem servirão, eu julgarei; e depois disto sairão com grande riqueza.

Comentário Cambridge

eu julgarei. Referindo-se às pragas do Egito.

com grande riqueza. Ver Êxodo 12:35-36; Salmos 105:37. [Cambridge]

15 Tu, porém, virás aos teus pais em paz, e serás sepultado em boa velhice.

Comentário Cambridge

virás aos teus pais. Ou seja, partir na morte para unir-se a teus antepassados no lugar dos espíritos falecidos, isto é, Sheôl. Compre Gênesis 47:30, “quando dormir com meus pais”; Gênesis 49:33, “foi reunido com seus pais”.

em boa velhice. Veja para o cumprimento desta promessa em Gênesis 25:7-8. Viver até uma boa velhice e deixar esta vida em paz era, como se vê na própria vida dos patriarcas, considerado como a recompensa da verdadeira piedade. Compare Jó 5:26, “Na velhice virás à sepultura, como o amontoado de trigo que se recolhe a seu tempo”; Provérbios 9:11; 10:27. [Cambridge]

16 E na quarta geração voltarão para cá; porque ainda não está completa a maldade dos amorreus até aqui.

Comentário de Genebra

porque ainda não está completa a maldade. Ainda que Deus tolere os ímpios por um tempo, contudo a sua vingança cai sobre eles quando a maldade deles chega até certo ponto. [Genebra]

17 E sucedeu que, depois de posto o sol, e já estando escuro, apareceu um fogo fumegando, e uma tocha de fogo que passou por entre os animais divididos.

Comentário M. G. Easton

um fogo fumegando, e uma tocha de fogo. Um símbolo da presença do Todo-Poderoso, passou entre as partes do sacrifício de Abraão na confirmação da aliança que Deus fez com ele. [Easton]

18 Naquele dia fez o SENHOR um pacto com Abrão dizendo: À tua descendência darei esta terra desde o rio do Egito até o rio grande, o rio Eufrates;

Comentário Barnes

Nesse instante, a aliança foi solenemente concluída. Seu principal benefício é a concessão da terra prometida com os extensos limites do rio do Egito e do Eufrates. O primeiro parece ser o Nilo com suas margens que constituem o Egito, como o Eufrates com suas margens delineiam a terra do Oriente, com a qual a terra prometida era adjacente. [Barnes]

19 Os queneus, e os quenezeus, e os cadmoneus,

Comentário M. G. Easton

quenezeus. Eles não são mencionados entre os habitantes originais de Canaã (Êxodo 3:8; Josué 3:10), e provavelmente eles habitaram alguma parte da Arábia, nos confins da Síria.

cadmoneus. Provavelmente eles eram os mesmos “filhos do Oriente”, que habitaram a região entre a Palestina e o Eufrates. [Easton]

20 E os heteus, e os ferezeus, e os refains,

Comentário M. G. Easton

heteus. Descendentes de Hete (Gênesis 10:15).

ferezeus. Eles deveriam ser expulsos da terra pelos descendentes de Abraão (Ex 3:8,1723:2333:234:11). Eles são depois mencionados entre as tribos conquistadas (Josué 24:11). No entanto, ainda permaneceram na terra, mas foram reduzidos à servidão por Salomão (1Reis 9:20).

refains . Ou “descendentes de Rafa” (2Samuel 21:22), eram assim chamados os nativos da Palestina, posteriormente conquistados e expropriados pelas tribos cananeias. Eles eram conhecidos pelos moabitas como emins, isto é, “terríveis” (Deuteronômio 2:11), e pelos amonitas como zanzumins. Alguns deles refugiaram-se entre os filisteus, e ainda existiam nos dias de Davi. Não sabemos nada de sua origem Eles não estavam necessariamente relacionados com os “gigantes” (nefilins) de Gênesis 6:4. [Easton]

21 E os amorreus, e os cananeus, e os girgaseus, e os jebuseus.

Comentário John Gill

os cananeus. Uma tribo ou nação que levava o nome de seu grande antepassado Canaã (Gênesis 13:7).

os girgaseus. O mesmo que gergesenos em Mateus 8:28.

os jebuseus. Que habitavam Jerusalém e arredores, primeiramente era chamada de Jebus. [Gill]

<Gênesis 14 Gênesis 16>

Introdução à Gênesis 15

Nos dois capítulos anteriores, encontramos muitos sinais da intenção favorável de Deus para com Abrão. Em Gênesis 15, Deus a confirma com uma solene aliança. Abrão recebeu as mais agradáveis garantias dadas a ele por um Deus fiel; e todas envolvidas com uma aliança de promessa. Um Deus generoso, não só se comprometeu a dar ao Patriarca uma extensa propriedade, mas também uma extensa descendência para desfrutá-la. E como essas bênçãos da semente e terra prometida, espiritualmente consideradas, eram tipos de coisas melhores por vir, até mesmo o Senhor Jesus Cristo como a semente da mulher, e a posse celestial através da qual Canaã representou; elas servem para nos ensinar, sob a condição do evangelho, o maior privilégio daqueles que são abençoados com o fiel Abrão.

Visão geral do Gênesis

Em Gênesis 1-11, “Deus cria um mundo bom e dá instruções aos humanos para que possam governar esse mundo, mas eles cedem às forças do mal e estragam tudo” (BibleProject). (8 minutos)

🔗 Abrir vídeo no Youtube.

Em Gênesis 12-50, “Deus promete abençoar a humanidade rebelde através da família de Abraão, apesar das suas falhas constantes e insensatez” (BibleProject). (8 minutos)

🔗 Abrir vídeo no Youtube.

Leia também uma introdução ao livro do Gênesis.

Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles – fevereiro de 2018.