Provérbios 31

1 Palavras do rei Lemuel, a profecia que sua mãe o ensinou.

Comentário de M. G. Easton

Palavras (“ditados”, NVI) do rei Lemuel. Nada se sabe a respeito deste rei. Os rabinos o identificaram com Salomão. [Easton, 1896]

a profecia que sua mãe o ensinou – ou então, “uma exortação que sua mãe lhe fez” (NVI).

2 O que posso te dizer, meu filho, ó filho do meu ventre? O que te direi, filho dos meus votos?

Ou então, conforme a versão NVI, “Ó meu filho, filho do meu ventre, filho de meus votos”.

3 Não dês tua força às mulheres, nem teus caminhos para coisas que destroem reis.

Ou melhor, “Não jogue fora sua vida procurando prazeres com muitas mulheres; são elas que acabam destruindo os reis” (VIVA).

nem teus caminhos para coisas que destroem reis – ou então, “seu vigor com aquelas que destroem reis” (NVI), referindo-se às mulheres.

4 Lemuel, não convém aos reis beber vinho; nem aos príncipes desejar bebida alcoólica.

Comentário de Andrew Fausset

não convém aos reis beber vinho. Todas as bebidas alcoólicas devem ser evitadas pelos reis. O motivo é dado no próximo verso (Provérbios 31:4). Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

5 Para não acontecer de que bebam, e se esqueçam da lei, e pervertam o direito de todos os aflitos.

Comentário de Andrew Fausset

Para não acontecer de que bebam, e se esqueçam da lei — veja também Provérbios 20:1 e Eclesiastes 2:3. Reis, em boa saúde, não precisam de bebida alcoólica, e ao evitá-la, dão um bom exemplo, já que estão em uma posição de destaque. Isso apoia a ideia de abstinência total quando ela traz mais benefício do que o uso da bebida. Veja os efeitos ruins da bebida nos casos de Elá (1Reis 16:8-9), Ben-Hadade (1Reis 20:16), Belsazar (Daniel 5:24), além de Oseias 7:5, Isaías 28:7; 56:12 e Efésios 5:18[Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

6 Dai bebida alcoólica aos que estão a ponto de morrer, e vinho que têm amargura na alma,

Comentário de Andrew Fausset

Aqui, o uso do vinho não é visto como uma bebida de uso contínuo, mas como algo medicinal ou revigorante, usado em momentos de necessidade, como um estimulante (veja Juízes 9:13; Lucas 10:34; 1Timóteo 5:23). [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

7 Para que bebam, e se esqueçam de sua pobreza, e não se lembrem mais de sua miséria.

Comentário de Andrew Fausset

Para que bebam, e se esqueçam de sua pobreza. Faça com que, pelo vinho que lhe deres (não em excesso, mas com moderação), ele esqueça sua tristeza — em contraste com o rei, que não deve beber para não esquecer a lei (Provérbios 31:5). [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

8 Abre tua boca no lugar do mudo pela causa judicial de todos os que estão morrendo.

Comentário de Andrew Fausset

Abre tua boca no lugar do mudo — isto é, por aqueles que não conseguem se defender nos tribunais.

pela causa judicial de todos os que estão morrendo — literalmente, “os filhos da morte” (hebraico: benee chaloph), que pode ser entendido como “filhos do abandono” ou órfãos, filhos deixados sem proteção após a morte dos pais. Imite a Deus, que é especialmente o defensor da viúva e do órfão. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

10 Mulher virtuosa, quem a encontrará? Pois seu valor é muito maior que o de rubis.

Comentário de Andrew Fausset

Os louvores à mulher virtuosa formam um acróstico hebraico: os 22 versos desse trecho começam, cada um, com uma das 22 letras do alfabeto hebraico, em ordem. Matthew Henry chamou esse trecho de “um espelho para as damas”.

A “mãe de Lemuel” (Provérbios 31:1) é quem sugere o modelo da “mulher virtuosa” — no hebraico, chail, que transmite a ideia de alguém corajosa, esforçada e boa.

quem a encontrará? é um tesouro raro (veja Eclesiastes 7:28). [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

11 O coração de seu marido confia nela, e ele não terá falta de bens.

Comentário de Andrew Fausset

O coração de seu marido confia nela… O marido confia plenamente nela, a ponto de deixar sob seus cuidados toda a administração da casa, podendo assim se dedicar a tarefas públicas e mais pesados. Essa confiança torna a esposa ainda mais diligente.

e ele não terá falta de bens. — ou seja, ele não precisa buscar ganhos em guerras ou saques, pois ela provê tudo que é necessário para o conforto e o bem-estar do lar. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

12 Ela lhe faz bem, e não o mal, todos os dias de sua vida.

Comentário de Andrew Fausset

Não apenas no começo do casamento, como acontece com muitos, mas durante toda a vida: nos tempos bons, nos dias difíceis, na doença, na velhice. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

13 Ela busca lã e linho, e com prazer trabalha com suas mãos.

Comentário de Andrew Fausset

Ela não espera que o marido traga os materiais, nem age com relutância. Pelo contrário, “com prazer trabalha com suas mãos”.

com prazer trabalha com suas mãos. Mesmo mulheres de alta posição, nos tempos antigos, faziam trabalhos domésticos com as próprias mãos (cf. Gênesis 18:6; 27:14). [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

14 Ela é como um navio mercante; de longe traz a sua comida.

Comentário de Andrew Fausset

Ela é como um navio mercante; de longe traz a sua comida — com o fruto do seu trabalho, ela compra o que é necessário e traz conforto para sua casa, assim como os navios mercantes trocam produtos locais por bens vindos de terras distantes. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

15 Ainda de noite ela se levanta, e dá alimento a sua casa; e ordens às suas servas.

Comentário de Andrew Fausset

Ela se levanta cedo e cuida para que todos na casa tenham o que comer, e ainda distribui o trabalho diário às servas. O padrão apresentado aqui para a mulher não é o de uma reclusa religiosa, vivendo em ascetismo monástico sob a aparência de santidade superior, mas sim o de alguém ativa, dedicada às responsabilidades do lar, econômica mas generosa, fiel como esposa, amorosa como mãe, e com o temor do Senhor como fundamento de tudo o que faz. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

16 Ela avalia um campo, e o compra; do fruto de suas mãos planta uma vinha.

Comentário de Andrew Fausset

Ela avalia um campo, e o compra. Isso mostra que não só a preguiça é condenada, mas também a impulsividade. A mulher sábia “calcula o custo” (como ensina Lucas 14:28), analisando se o campo vale o preço e se ela pode pagar por ele. Ela não fica apenas pensando ou hesitando — ela age com decisão e responsabilidade.

do fruto de suas mãos planta uma vinha. Há aqui uma nota interessante sobre o texto hebraico: a forma verbal pode ser feminina (indicando que ela planta) ou masculina (indicando que o marido planta com os recursos do trabalho dela). A ideia é que, mesmo não sendo seu papel direto cuidar do campo (atividade externa), ela investe com sabedoria o que conquistou com seu esforço. Ela prioriza o necessário antes do supérfluo. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

17 Ela prepara seus lombos com vigor, e fortalece seus braços.

Comentário de Andrew Fausset

Ela prepara seus lombos com vigor — ou seja, ela se prepara com vigor para aquilo que faz, colocando toda a sua energia nas tarefas. “Cingir os lombos” era um gesto usado para o trabalho ou para a ação (veja Êxodo 12:11; 1 Reis 18:46; Jó 38:3).

e fortalece seus braços — ela não se limita a tocar o trabalho de forma superficial ou delicada, mas usa os braços com firmeza, sem recuar do trabalho duro. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

18 Ela prova que suas mercadorias são boas, e sua lâmpada não se apaga de noite.

Comentário de Andrew Fausset

Ela prova que suas mercadorias são boas — que o fruto do seu trabalho é bem-sucedido. A imagem do “comércio” retoma a ideia do verso 14, onde ela é comparada aos navios mercantes. A experiência mostra que a diligência traz bons resultados.

e sua lâmpada não se apaga de noite — assim como ela se levanta cedo, também trabalha até tarde, mesmo à luz da candeia. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

19 Ela estende suas mãos ao rolo de linha, e com suas mãos prepara os fios.

Comentário de Andrew Fausset

Ela estende suas mãos ao rolo de linha — diferente de muitas mulheres que gastam a maior parte do tempo se enfeitando diante do espelho, essa mulher virtuosa usa suas mãos para atividades que realmente trazem benefício à sua casa e à sua família. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

20 Ela estende sua mão ao aflito, e estica os braços aos necessitados.

Comentário de Andrew Fausset

O fruto do seu trabalho (como mostrado no verso 19) não é voltado apenas para si mesma. Ela trabalha para que possa “ter com que repartir com o que tiver necessidade” (Efésios 4:28). A expressão “abre a mão” — ou melhor, “abre amplamente” — indica generosidade, o oposto de fechar a mão (veja Deuteronômio 15:7-8). O objetivo do trabalho e da prosperidade não é acumular riqueza ou gastar com futilidades e vaidades, mas sim usar o que vai além das necessidades pessoais e familiares para ajudar os que passam necessidade. Sua diligência brilha no adquirir, e sua piedade se mostra no dar. O texto alterna entre “sua mão” e “suas mãos” — o que sugere que ela está pronta a ajudar com uma mão, ou com as duas, conforme a urgência da situação. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

21 Ela não terá medo da neve por sua casa, pois todos os de sua casa estão agasalhados.

Comentário de Andrew Fausset

Tão longe está sua família de ficar sem roupas para se proteger do frio, que eles possuem até mesmo vestes mais caras (veja Provérbios 31:22). É assim que leem as versões Siríaca e Caldaica. A cor escarlate sugere tanto calor quanto beleza, em contraste com a neve fria. Mas a Vulgata traduz, conforme a margem, como “vestes duplas” (shenayim — dupla, em vez de shaaniym — escarlate). Da mesma forma, a Septuaginta traduz por dissa, significando uma veste dupla, tão eficaz quanto duas. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

22 Ela faz cobertas para sua cama; de linho fino e de púrpura é o seu vestido.

Comentário de Andrew Fausset

Ela provê tanto para o enfeite quanto para a necessidade; ao mesmo tempo, cuida primeiro do conforto essencial de sua casa antes de pensar em sua própria satisfação. Isso mostra que a proibição de roupas caras (1Timóteo 2:9; 1 Pedro 3:3) é dirigida contra o uso da vestimenta como instrumento de orgulho e vaidade. A esposa aqui descrita ocupa uma posição elevada. Cada pessoa deve se vestir de acordo com sua condição. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

23 Seu marido é famoso às portas da cidade, quando ele se senta com os anciãos da terra.

Comentário de Andrew Fausset

Seu marido é famoso (destaca-se; ocupa uma posição de destaque por causa da influência indireta dela) às portas da cidade (o local onde se fazia justiça), quando se assenta entre os anciãos (os líderes) da terra. A diligência e amabilidade de sua esposa no lar permitem que ele, com a mente livre de preocupações, se dedique plenamente às suas responsabilidades públicas em cargos elevados no Estado (cf. Provérbios 12:4). [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

24 Ela faz panos de linho fino, e os vende; e fornece cintos aos comerciantes.

Comentário de Andrew Fausset

fornece cintos aos comerciantes — os vende aos comerciantes, que os revendem para estrangeiros. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

25 Força e glória são suas roupas, e ela sorri pelo seu futuro.

Comentário Whedon

Força e glória. Ou, beleza; (o abstrato para o concreto;) sua vestimenta é forte e bela, tanto a que veste como a que vende; e, portanto, não tem nenhuma preocupação com o futuro.

ela sorri pelo seu futuro – ou é alegre para o futuro; literalmente, ela ri do depois do dia. Temendo a Deus e trabalhando com justiça, buscando negócios lucrativos e abençoada pela Providência, ela está alegre diante do futuro. [Whedon]

26 Ela abre sua boca com sabedoria; e o ensinamento bondoso está em sua língua.

Comentário de Andrew Fausset

Ela abre sua boca com sabedoria. Ela não é faladeira nem frívola, mas fala com ponderação e bom senso. A ociosidade leva à tagarelice (1 Timóteo 5:13), enquanto a diligência é seu antídoto.

e o ensinamento bondoso está em sua língua. Ela fala com graça e generosidade. O original diz literalmente “sobre a sua língua”, indicando que a bondade repousa ali constantemente. Ela une sabedoria com ternura — tanto no sentido natural quanto espiritual. Além de palavras gentis, ela também fala da lei da graça, ou seja, da Palavra de Deus, que é a fonte de toda verdadeira bondade. Mulheres piedosas não devem falar apenas sobre assuntos domésticos, mas também compartilhar a graça de Deus com todos os que estão ao seu redor (veja 2Timóteo 1:5; 3:15; 1Samuel 2:1; Ester 4:16). Cristo é o maior exemplo disso (Isaías 50:4; Lucas 4:22). [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

27 Ela presta atenção aos rumos de sua casa, e não come pão da preguiça.

Comentário de Andrew Fausset

Ela presta atenção aos rumos de sua casa — ou seja, ela cuida dos assuntos do lar com atenção e responsabilidade. Não se intromete na vida dos outros, mas se concentra em observar de perto os caminhos e comportamentos dos seus, verificando se todos cumprem seus deveres com fidelidade e temor a Deus.

e não come pão da preguiça. Em contraste com o “pão de dores” (Salmo 127:2). [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

🔗 Para se aprofundar no assunto, leia o texto “O temor do Senhor é o antídoto contra a preguiça” do pastor batista Paulo Alves.

28 Seus filhos se levantam e a chamam de bem-aventurada; seu marido também a elogia, dizendo:

Comentário de Andrew Fausset

Seus filhos se levantam e a chamam de bem-aventurada. Quando chegam à maturidade, os filhos reconhecem e louvam a mãe pela formação e educação que receberam dela desde cedo. A expressão “se levantam” é usada para indicar a entrada na vida pública. Quando eram crianças, viviam no ambiente privado do lar; ao se levantarem e entrarem na vida pública, demonstram que alcançaram a maturidade. Além disso, “levantar-se” também pode significar assumir com seriedade o cumprimento de um dever, como em Josué 18:4.  [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

29 Muitas mulheres agem com virtude, mas tu és melhor que todas elas.

Comentário de Andrew Fausset

Esta é uma palavra de elogio dirigida à mulher virtuosa, vinda de Salomão ou do próprio Espírito de Deus. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

30 A beleza é enganosa, e a formosura é passageira; mas a mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada.

Comentário de Keil e Delitzsch

O que segue agora não é uma continuação das palavras de louvor do marido (Ewald, Elster, Löwenstein), mas um epiphonema auctoris (Schultens); o poeta confirma o louvor do marido, remetendo-o ao fundamento geral de sua razão:

A beleza é enganosa, e a formosura é passageira; mas a mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada.

A beleza é vaidade, porque não é nada que permanece, nada que é real, mas que está sujeito à lei de todas as coisas materiais – a transitoriedade. O verdadeiro valor de uma esposa é medido apenas pelo que é duradouro, de acordo com o fundo moral de sua aparência externa; de acordo com a piedade que se manifesta quando a beleza da forma corporal se desvanece, em uma beleza que é atraente. [Keil e Delitzsch]

31 Dai a ela conforme o fruto de suas mãos, e que suas obras a louvem às portas da cidade.

Comentário de Andrew Fausset

Dai a ela conforme o fruto de suas mãos — exortação de Salomão aos homens em geral: dai a ela os elogios que tão ricamente merece.

às portas — nos lugares públicos. [Jamieson, Fausset, Brown, 1866]

<Provérbios 30 Eclesiastes 1>

Visão geral de Provérbios

“O livro de Provérbios convida as pessoas a viverem com sabedoria e temor ao Senhor a fim de experimentarem a boa vida”. Tenha uma visão geral deste livro através de um breve vídeo produzido pelo BibleProject. (8 minutos)

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Leia também uma introdução ao livro dos Provérbios.

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