O que se quer dizer é que fé é aquilo que dá segurança ou convicção de coisas futuras. Essas coisas existem independentemente da fé, mas é pela fé que são alcançadas. [Dummelow, 1909]
Na versão NVT temos a seguinte tradução, “A fé mostra a realidade daquilo que esperamos; ela nos dá convicção de coisas que não vemos”.
os antigos – ou seja, os homens fiéis sob a antiga dispensação.
obtiveram [bom] testemunho – de Deus nas Escrituras do Antigo Testamento. Ou seja, foram reconhecidos por sua fé.
A fé nos permite perceber a causa invisível do mundo fenomenal (compare com Rm 1:20), o escritor começa com Gn 1 antes de continuar a dar exemplos da fé dos pais. [Dummelow, 1909]
que o universo foi formado – numa tradução mais literal ficaria, que as eras foram preparadas. A notável expressão usada em Hb 1:2 é aqui repetida. A completa preparação de tudo o que os sucessivos períodos de tempo contêm é a ideia que essas palavras apresentam. A narrativa do primeiro capítulo de Gênesis atribui a Deus toda a criação do “céu e da terra”; e associa com uma palavra de Deus cada etapa da preparação e preenchimento da terra. [Ellicott, 1905]
Abel. O escritor diz que a maior qualidade do sacrifício de Abel se devia à sua fé, mas no que a fé se manifestou em particular, ele não diz. Pode ter sido a consciência de que Deus merece o melhor. [Dummelow, 1909]
ainda fala [a nós] por meio dela – ou seja, por meio da sua demonstração de fé. Uma referência a Gn 4:10.
transladado (Gn 5:22,24) – ou seja, deslocado (o mesmo grego que em Gl 1:6) da mortalidade, sem passar pela morte, para a imortalidade: tal MUDANÇA que ocorrerá sobre os vivos na vinda de Cristo (1Co 15:51-52).
ele obteve testemunho – das Escrituras; o original grego indica que este testemunho ainda continua. [JFU, 1871]
Noé. Sua fé se baseava em uma revelação direta das coisas que ainda se não viam, nomeadamente, a destruição do mundo e os meios de salvação.
ele condenou o mundo – ou porque ele advertiu o mundo da destruição iminente (ver 1Pe 3:20; 2Pe 2:5); ou porque seu exemplo eliminou qualquer motivo de desculpa (compare com Mt 12:41). [Dummelow, 1909]
Abraão. Pela fé, Abraão fez uma grande renúncia em obediência ao chamado de Deus. Ele foi preeminentemente um homem de fé, o primeiro cuja fé é claramente mencionada no Antigo Testamento (Gn 15:6); ele é o “pai da fé”. Durante toda a sua vida morou em tendas, ou seja, não recebeu as promessas, mas esperou pacientemente pelo cumprimento delas e, portanto, não fez nenhuma tentativa de se estabelecer permanentemente em Canaã. Ele procurou a invisível e celestial cidade de Deus, como o cumprimento do ideal que para ele era o real. [Dummelow, 1909]
a cidade que tem fundamentos firmes. A ideia geral é o que encontramos expresso em Hb 11:14-16. Ali, os estrangeiros e peregrinos procuram o seu próprio país; aqui, o habitante de tendas está à espera da cidade que tem os fundamentos. Todos estes versículos ensinam claramente que a promessa, tal como foi recebida pelos patriarcas, não estava limitada pela dádiva de Canaã. De que natureza podem ter sido as suas expectativas em relação à vida futura não podemos dizer; mas isto eles sabiam, que a sua comunhão com Deus e o seu interesse nas Suas promessas não acabariam com esta vida transitória. O que eles viram das bênçãos terrenas foi apenas o penhor de alguma dádiva futura maior, e ainda presente através do poder de sua fé. A tenda móvel poderia ser a casa de Abraão agora, mas ele esperava por aquela cidade que nunca conheceria a mudança – da qual só se poderia dizer que tem “fundamentos firmes”, e cujo Arquiteto e Criador é Deus (complemento Sl 87:1; Ap 21). [Ellicott, 1905]
a própria Sara – apesar de ter duvidado no começo (Gn 18:10-15).
pois considerou fiel aquele que havia prometido – ela deixou de duvidar, tendo sido instruída pelo anjo que não era brincadeira, mas um assunto sério. [JFU, 1871]
de um – Abraão.
sem receberam as promessas – isto é, o cumprimento delas.
as viram de longe e as saudaram. Eles olharam adiante pela fé e viram as promessas e “as saudaram”, de longe, e viveram aqui como numa terra estrangeira, conscientes de que sua verdadeira pátria não estava aqui, mas no céu. E Deus recompensou a fé deles reconhecendo-os como Seu povo, e providenciando uma “cidade” para eles acima. [Dummelow, 1909]
os que dizem tais coisas – ou seja, que confessam serem “estrangeiros e peregrinos na terra”.
Mas nunca tentaram regressar à Mesopotâmia, porque a casa da qual eles ansiavam não estava naquela terra mas no céu.
Abraão…ofereceu Isaque como sacrifício. Veja Gn 22. Esta foi a prova suprema da fé de Abraão. Não lhe foi permitido sacrificar Isaque, mas ele realmente o ofereceu, isto é, entregou-o a Deus, embora ele fosse o único filho, o filho da promessa e o único elo na cadeia da promessa. Mas a fé na promessa de Deus fez com que ele superasse todas as impossibilidades de cumprimento dela que aparentemente existiam. [Dummelow, 1909]
seu único filho – com Sara, sua esposa e pertencente à promessa.
Ele considerou que Deus era poderoso até para ressuscitar Isaque dos mortos – e que ele faria isso. Essa ideia está implícita em toda a narrativa. Não havia outra maneira pela qual a promessa pudesse ser cumprida. Abraão recebeu a promessa de uma numerosa descendência. Foi-lhe dito explicitamente que seria através deste filho. Ele agora havia recebido ordem de matá-lo como sacrifício, e se dispôs a fazer isso. Para cumprir essas promessas, portanto, não havia outro caminho possível a não ser ressuscitar dentre os mortos, e Abraão acreditava plenamente que isso seria feito. A criança lhe fora dada inicialmente de maneira sobrenatural e, portanto, estava preparado para acreditar que lhe seria milagrosamente restituído. Ele não duvidava de que, no início, quem o tinha dado de uma maneira tão contrária a toda a probabilidade humana, poderia lhe devolver Isaque de uma maneira extraordinária. Previa, portanto, que o ressuscitaria imediatamente dos mortos. Que esta era a expectativa de Abraão é visível na narrativa de Gn 22:5: “Então disse Abraão a seus servos: Esperai aqui com o asno, e eu e o jovem iremos até ali, e adoraremos, e voltaremos a vós” no plural – ונּשׁובּה אליכם wanaashuwbaah ‘alēykem – “e voltaremos“; isto é, eu e Isaque voltaremos, pois nenhuma outra pessoa foi com eles. Como Abraão foi com a total expectativa de sacrificar Isaque, e como esperava que Isaque voltasse com ele, conclui-se que ele acreditava que Deus o ressuscitaria imediatamente dos mortos. [Barnes, 1870]
adorou apoiado sobre a ponta do seu cajado. As palavras seguem a Septuaginta ao invés do texto massorético, que traz “cama” ao invés de cajado. Para Guthri (1984) o detalhe é obtido de um encontro anterior entre Jacó e José em Gn 47:31, mas o escritor o registra por causa do seu significado religioso. Segundo Guthri, o “cajado era significante no pensamento hebraico como sinal do favor de Deus, e pode haver um indício de semelhante significado simbólico aqui”, ou então, como sugere Laubach, “é o símbolo de sua peregrinação”.
Isaque, Jacó e José se assemelham no fato de que à beira da morte olhavam pela fé além da morte, e estavam certos do futuro. [Dummelow, 1909]
viram que o menino era belo. A aparência da criança despertou neles a fé de que Deus havia destinado ela para algum grande propósito, e a fé deles foi demonstrada em sua ousada desconsideração do mandamento do rei (leia Êx 1:16-22). [Dummelow, 1909]
A fé de Moisés foi demonstrada em sua renúncia a todas as regalias da corte do Faraó e em sua defesa da causa de seus irmãos afligidos. [Dummelow, 1909]
preferiu – ou então, ele escolheu propositalmente. Moisés se juntou ao seu povo porque era o povo de Deus. Permanecer indiferente por uma questão de comodidade e prazer teria sido apostasia dele à Deus (“pecado”, comp. Hb 10:26). A fé de Moisés havia trazido “convicção das coisas não se veem”, que são eternas; por isso, ele não olhou para “as coisas visíveis” que são por um tempo (2Co 4:18, onde a mesma palavra é usada). [Ellicott, 1905]
Pela fé, ele deixou o Egito. Referindo-se ao Êxodo, não à fuga de Moisés para Midiã. Na última ocasião, ele nitidamente “temeu a ira do rei” (Êx 2:14-15). É verdade que, no momento, o Faraó e os egípcios pressionaram os israelitas a partirem, mas foi apenas com medo e raiva, e Moisés previu a perseguição que haveria logo depois.
aquele que é invisível – “o bendito e único Soberano…a quem nenhum ser humano viu, nem pode ver” (1Tm 6:15-16). Talvez devêssemos traduzir como “o rei invisível”, interpretando a palavra βασιλέα, e assim enfatizando o contraste entre o temor à Deus e a consequente atitude destemida em relação ao faraó. [Cambridge, 1891]
A celebração da Páscoa foi um ato de fé, porque foi o meio designado para o livramento da morte, e o cumprimento dela implicava fé na promessa que Deus os guardaria. [Dummelow, 1909]
Pela fé, [Moisés e os israelitas] atravessaram o mar Vermelho.
morreram afogados. Literalmente, foram engolidos (Êx 14:15-28; Sl 106:9-12). [Cambridge, 1891]
Sansão. A história de Sansão está registrada em Jz 14-16. Não é de forma alguma necessário supor que, ao mencionar Sansão, o apóstolo esteja aprovando tudo o que ele fez. Tudo o que o autor ordena é a sua fé, pois, embora Sansão fosse um homem muito imperfeito e que muitas das suas atitudes, totalmente reprováveis, ainda assim é verdade que ele demonstrou, em algumas ocasiões, notável confiança em Deus, recorrendo a força que Ele lhe deu. Isso é particularmente evidente na ocasião em que ele massacrou os inimigos do Senhor e de sua nação (Jz 15:16; 16:30). [Barnes, 1870]
venceram reinos – como fez Davi (2Sm 8:1, etc.); assim também Gideão subjugou Midiã (Jz 7:1-25).
praticaram a justiça – como fez Samuel (1Sm 8:9; 12:3-33; 15:33); e Davi (2Sm 8:15).
alcançaram promessas – como “os profetas” (Hb 11:32); porque através deles as promessas foram dadas (compare Dn 9:21) (Bengel). Ou então, “alcançaram o cumprimento de promessas” (NVI), que anteriormente havia sido objeto de sua fé (Js 21:45; 1Rs 8:56). Não “as promessas”, que ainda são futuras (Hb 11:13,39).
fecharam bocas de leões – como Daniel (“pois havia confiado em seu Deus”, Dn 6:22-23). Também Sansão (Jz 14:6), Davi (1Sm 17:34-37), Benaia (2Sm 23:20). [JFU, 1871]
apagaram o poder do fogo – ou seja, anularam o efeito destrutivo do fogo (Whedon). Em referencia a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego (Dn 3).
As mulheres receberam de volta os seus mortos pela ressurreição. A mulher de Sarepta (1Rs 17:22), a sunamita (2Rs 4:32-36).
uma melhor ressurreição – não uma mera ressurreição para a vida terrena, como os filhos das mulheres que acabamos de mencionar, mas uma ressurreição para a vida eterna (2Ma 7:9). [Cambridge, 1891]
prisões – como Hanani (2Cr 16:10), preso por Asa. Micaías, filho de Inlá, preso por Acabe (1Rs 22:26-27). [JFU, 1871].
apedrejados – como Zacarias, filho de Jeoiada (2Cr 24:20-22; Mt 23:35).
tentados – por seus inimigos, no meio de suas torturas, a renunciarem sua fé. Ou então, por aqueles de sua própria casa, como Jó foi (Estius); ou pelos dardos inflamados de Satanás, como Jesus nas suas últimas provações (Glassius). Provavelmente incluiu os três; de todas as maneiras possíveis, por amigos, inimigos, agentes humanos e satânicos, por afagos e aflições, palavras e obras, a abandonarem a Deus, mas em vão, através do poder da fé.
espada – literalmente, eles morreram pela espada. Em Hb 11:34 o contrário é dado como um efeito da fé, “eles escaparam do fio da espada”. Ambos são efeitos maravilhosos da fé. Em ambos realiza grandes coisas e sofre grandes coisas (Crisóstomo). Urias foi assim morto por Jeoaquim (Jr 26:23); e os profetas em Israel (1Rs 19:10).
de peles de ovelhas – como Elias (1Rs 19:13, Septuaginta). [JFU, 1871]
o mundo não era digno deles – embora tratasse eles como se não tivessem valor.
covas, e nas cavernas. Os israelitas em geral (Jz 6:1). Os profetas do Senhor (1Rs 18:4,13). Elias (1Rs 19:9). Matatias e seus filhos “fugiram para as montanhas” (1Ma 2:28), e muitos outros “para o deserto” (1Ma 2:29). Judas, o Macabeu (2Ma 5:27). [Cambridge, 1891]
mesmo tendo bom testemunho por meio da fé – ou seja, embora tenham sido reconhecidos e aprovados por sua demonstração de confiança em Deus.
não alcançaram a promessa – ou seja, não receberam o cumprimento da promessa; ou não receberam tudo o que foi prometido. Todos eles ainda aguardavam ansiosamente algumas bênçãos futuras. [Barnes, 1870]
Ou seja, conforme a versão VIVA, “porque Deus queria que eles esperassem e participassem das recompensas ainda melhores que estavam preparadas para nós”.
Introdução à Hebreus 11
O escritor já mencionou a fé como uma condição necessária para uma vida justa, e agora passa a ilustrar o fato de que foi pela fé que os ancestrais foram capazes de fazer justiça e suportar provações. O heroico exemplo deles deveria encorajar os hebreus a permanecerem firmes. O principal objetivo, portanto, desta longa passagem é prático. Mas também tem um lugar no argumento principal da Epístola. Foi demonstrado que as coisas terrenas e visíveis são apenas os tipos, cópias ou sombras das realidades celestiais (Hb 8:5; Hb 9:22-23; 10:1). A ideia base dos capítulos anteriores é que, ao contrário da maneira comum de pensar, é o celestial que é o real. Mas como as coisas celestiais e invisíveis podem ser realizadas com qualquer segurança? Pela operação da fé. A fé é aquilo pelo qual o invisível se torna real e o futuro se torna presente. “A fé mostra a realidade daquilo que esperamos; ela nos dá convicção de coisas que não vemos” (NVT). Não é um princípio novo no mundo, porque foi a fé que inspirou o heroísmo e o auto-sacrifício dos santos que viveram sob a antiga dispensação. Nós, com melhores promessas e uma aliança melhor do que eles, não devemos ficar para trás no exercício da mesma fé pela qual eles viveram. [Dummelow, 1909]
Visão geral de Hebreus
Na livro de Hebreus, “o autor mostra como Jesus é a revelação final do amor e da misericórdia de Deus e é digno de nossa devoção”. Para uma visão geral deste livro, assista ao breve vídeo abaixo produzido pelo BibleProject. (9 minutos)
Leia também uma introdução à Epístola aos Hebreus.
Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles – junho de 2020.