Lucas 3

1 No ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos o governador da Judeia, Herodes tetraca da Galileia, e seu irmão Filipe o tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias o tetrarca de Abilene;

Comentário de David Brown

(1-2) Aqui, como que se levanta a cortina do Novo Testamento, e inicia-se a maior de todas as épocas da Igreja. Mesmo a época de nosso Senhor (Lucas 3:23) é determinada por isso (Bengel). Não se encontra precisão cronológica tão elaborada em nenhum outro lugar do Novo Testamento, e isso se ajusta bem ao autor, que alega isso como uma recomendação especial de seu Evangelho, afirmando que ele “trouxe com exatidão todas as coisas desde o início” (Lucas 1:3). Aqui, evidentemente, inicia-se sua narrativa propriamente dita. Veja também em Mateus 3:1.

No ano quinze do império de Tibério César — calculado a partir do período em que foi admitido, três anos antes da morte de Augusto, em uma parte do império [Webster e Wilkinson], pro volta do final do ano 779 de Roma, ou cerca de quatro anos antes da contagem usual.

Pilatosgovernador da Judeia. Seu título oficial era Procurador, mas com mais poderes do que o usual nesse cargo. Após ocupá-lo por cerca de dez anos, foi mandado a Roma para responder a acusações feitas contra ele, mas antes de chegar, Tibério morreu (35 d.C.), e pouco depois, Pilatos cometeu suicídio.

Herodes — (Veja em Marcos 6:14).

Filipe — um Filipe diferente e muito superior àquele cuja esposa, Herodias, foi viver com Herodes Antipas (Veja Marcos 6:17).

Itureia — ao nordeste da Palestina; assim chamada por causa do filho de Ismael, Itur ou Jetur (1Crônicas 1:31), e que antigamente pertencia à meia tribo de Manassés.

Traconites — mais ao nordeste, entre Itureia e Damasco; uma região rochosa, infestada de ladrões, e confiada por Augusto a Herodes, o Grande, para mantê-la em ordem.

Abilene — ainda mais ao nordeste, assim chamada a partir de Abila, a dezoito milhas de Damasco [Robinson]. [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

2 sendo Anás e Caifás os sumos sacerdotes, a palavra de Deus veio a João, filho de Zacarias, no deserto.

Comentário de David Brown

Anás e Caifás os sumos sacerdotes – o primeiro, embora deposto, manteve grande parte de sua influência e, provavelmente, como vice exerceu grande parte do poder do sumo sacerdócio juntamente com Caifás (João 18:13; Atos 4:6). Tanto Zadoque quanto Abiatar atuaram como sumos sacerdotes na época de Davi (2Samuel 15:35), e parece que se tornou prática comum ter dois (2Reis 25:18). (Também consulte Mateus 3:1.)

a palavra de Deus veio a João. Tais expressões, é claro, nunca são usadas ao falar de Jesus, porque a natureza divina se manifestou nele não em certos momentos isolados de sua vida. Ele era a única manifestação eterna da Divindade — a Palavra [Olshausen]. [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

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3 Ele percorreu toda a região ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados;

Comentário de F. W. Farrar

Ele percorreu toda a região ao redor do Jordão. A reputação de João provavelmente o precedeu antes do chamado divino. Sua família – filho de uma família sacerdotal bem conhecida, – as circunstâncias maravilhosas que cercaram seu nascimento, seu estilo de vida ascético desde o início – tudo isso contribuiu para torná-lo uma figura marcante; assim, quando ele saiu de sua solidão, lemos nos outros evangelistas como multidões saíram para ouvir as palavras estranhamente ardentes, a eloquência divina de alguém que há muito tempo era visto pelo povo como separado para uma grande obra. Parece que ele pregou e ensinou principalmente no vale do Jordão – sem dúvida, para a conveniência de seus candidatos ao batismo. Mas ele claramente não limitou sua pregação a um único local ou mesmo a uma única região. O distrito aqui mencionado tinha cerca de duzentos e quarenta quilômetros de extensão.

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o batismo de arrependimento. Primeiramente, o que João quis dizer com arrependimento? A palavra traduz o grego μετάοεῖτε, que significa “mudança de mente”. No Evangelho de Mateus, onde o trabalho de João é descrito em uma linguagem ligeiramente diferente, ele é representado como dizendo: “Arrependei-vos” (μετανοεῖτε). Lá, suas palavras poderiam ser parafraseadas como “Afaste-se de seus pensamentos antigos, de seu estado de autocontentamento, autossatisfação; corrijam seus caminhos”. Aqui, então, o batismo (sobre o qual discutiremos posteriormente) que ele pregou e convocou os homens deve ser acompanhado por uma mudança de mente; os batizados não devem mais estar satisfeitos com seu estado ou conduta atuais; eles devem mudar seus caminhos e reformar suas vidas. Aqueles que estavam convencidos de que ele era de fato um homem de Deus, que suas palavras eram corretas e verdadeiras – deviam vir até ele, determinados a mudar sua conduta na vida, e receber de suas mãos um batismo, uma lavagem – o símbolo dos meios de purificação; pois o batismo de João era nada mais. Agora, está claro que o batismo não era praticado entre os judeus naquela época. Não era, até onde podemos verificar, usado mesmo no caso dos prosélitos pagãos ao judaísmo. Isso aparentemente só se tornou um costume nacional após a queda de Jerusalém, d.C. 70, quarenta anos depois. Seu próprio título, “o Batista”, de alguma forma nos mostra que ele praticava um rito incomum, se não inédito, durante sua pregação e ensino. O batismo de João (usando as expressões vívidas do Morrison, Comentário sobre Mateus 3:6) era apenas a incorporação, em simbolismo visual significativo, do simbolismo auditivo significativo dos profetas do Antigo Testamento, quando clamavam em alta voz e diziam: “Lavai-vos, purificai-vos; tirai de diante dos meus olhos as vossas obras más” (Isaías 1:16); “Naquele dia, haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para o pecado e para a imundícia” (Zacarias 13:1); “Então eu aspergirei água limpa sobre vós, e ficareis limpos; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Também vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo” (Ezequiel 36:25, 26). Essa visão do batismo de João, ou seja, que era um símbolo e nada mais, foi sugerida por Josefo ao escrever para os judeus. “João”, diz ele, “ordenou aos judeus que primeiro cultivassem a virtude e praticassem a justiça uns para com os outros e a piedade para com Deus, e então se submetessem ao seu batismo, pois somente assim o batismo seria aceitável a Deus” (‘Ant.’, 18:05, 2). [Spence; Exell, 189?]

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4 conforme o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.

Comentário de F. W. Farrar

conforme o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: “Voz do que clama no deserto. O profeta citado (Isaías 40:3) estava escrevendo em sua solidão, ou mais provavelmente em alguma grande assembleia popular, pregando para o povo. Naquele momento, sem dúvida, muitos problemas nacionais ameaçavam Israel; o futuro do povo escolhido parecia muito sombrio, tanto interno quando externamente. Podemos ouvir o homem de Deus falando com intensa seriedade e olhando para tempos mais luminosos. “Consolem, consolem o meu povo”, diz o Deus de vocês. “Falem ao coração de Jerusalém e anunciem que o tempo da sua escravidão já acabou, que a sua iniquidade está perdoada” (NAA), etc.; e então uma súbita irrupção quando o profeta, inclinando-se para a frente e esticando os ouvidos para ouvir algum som que mais ninguém captou além dele, continua em sua fala arrebatada – Eu ouço uma voz, “A voz do que clama no deserto, Preparai o caminho do Senhor”.

Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. A imagem é simples, e no Oriente, como se sabe, onde as estradas são comparativamente poucas e, quando existem, muitas vezes estão em mau estado, quando um soberano está prestes a visitar alguma parte de seus domínios, ou ainda mais se a marcha de um exército precisa ser organizada, as estradas requerem uma preparação considerável. Josefo (‘Bell. Jud.,’ 3:06) descreve o avanço do exército do Imperador Vespasiano e menciona especialmente como os pioneiros e a vanguarda tiveram que preparar a estrada, tornando-a plana e reta, e, se em algum lugar ela fosse acidentada e difícil de ser atravessada, aplainá-la. Havia uma lenda judaica de que esse trabalho especial de pioneirismo no deserto foi feito pela coluna de nuvem e fogo, que nivelou as montanhas e encheu os vales diante da marcha dos israelitas. A missão especial de João era preparar o caminho para a vinda de um Messias muito diferente daquele que o povo esperava – preparar o caminho através de uma reforma espiritual no coração, na mente e no caráter. [Spence; Exell, 189?]

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5 Todo vale se encherá, e todo monte e colina se abaixará; os tortos serão endireitados, e os caminhos ásperos se suavizarão;

Comentário de David Brown

Todo vale, etc. — nivelamento e suavização, figuras óbvias, cujo significado está nas primeiras palavras da proclamação: ‘Preparai o caminho do Senhor.’ [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

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6 e todos verão a salvação de Deus.”

Comentário de David Brown

Citado literalmente de Isaías 40:5 da Septuaginta. A ideia é que toda obstrução será removida de tal forma que revelará ao mundo inteiro a Salvação de Deus nAquele cujo nome é ‘Salvador’ (compare com Salmo 98:3; Isaías 11:10; 49:6; 52:10; Lucas 2:31, 32; Atos 13:47). [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

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7 João dizia às multidões que vinham ser batizadas por ele: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para chegar?

Comentário Cambridge

às multidões. Diferentes multidões vinham de direções diferentes, Mateus 3:5; Marcos 1:5.

Raça de víboras. Melhor, ninhadas de víboras. Eles eram como “serpentes nascidas de serpentes.” A comparação era familiar à poesia hebraica (Salmo 68:4; Isaías 14:9), e aprendemos de Mateus 3:7 que foi dirigida especialmente aos fariseus e saduceus, a quem nosso Senhor também dirigiu de forma severa (Mateus 23:33). Isso descrevia a hipocrisia venenosa que transformava a própria religião em vício e escondia uma malícia mortal sob a aparência reluzente de um zelo pela ortodoxia. No entanto, é importante lembrar que somente os mestres de santidade excepcional, inspirados diretamente por Deus com fervor e discernimento, podem ousar usar tal linguagem. A metáfora era um dos símbolos do deserto que seriam sugeridos a João tanto pelo local de sua pregação quanto pela linguagem de Isaías, com a qual ele estava particularmente familiarizado.

da ira que está para chegar. Os judeus haviam sido ensinados pela Profecia que a Vinda de seu Libertador seria precedida por um período de angústia que eles chamavam de “As Aflições do Messias”; compare com Malaquias 3:2, “Quem suportará o dia de Sua vinda? E quem ficará de pé quando Ele aparecer? Pois Ele é como o fogo do purificador e como o sabão do lavandeiro”. Id. Lucas 4:1 “Eis que envio a vocês Elias, o profeta, antes da vinda do grande e temível dia do Senhor.” Tais profecias receberam seu cumprimento primário na Destruição de Jerusalém (veja Mateus 24:28; Marcos 13:19-20); e aguardam seu cumprimento final no futuro. Apocalipse 6:16. [Cambridge]

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8 Dai, pois, frutos condizentes com o arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: ‘Temos Abraão por pai’; pois eu vos digo que até destas pedras Deus pode produzir filhos a Abraão.

Comentário Cambridge

Dai, pois. O verbo implica esforço imediato. “Produza imediatamente.”

não comeceis a dizer. Ele corta até mesmo qualquer tentativa de justificação própria.

Temos Abraão por pai. Os judeus tinham uma concepção tão elevada desse privilégio (João 8:39) que mal conseguiam acreditar ser possível que algum filho de Abraão se perdesse. Isso é evidente em muitos trechos do Talmude, que afirmam que “um único israelita tem mais valor aos olhos de Deus do que todas as nações do mundo”. “Tu fizeste o mundo por nossa causa. Quanto aos outros povos… Tu disseste… que eles não passam de saliva, e comparaste a abundância deles a uma gota que cai de um vaso… Mas nós, Teu povo (a quem chamaste de Teu primogênito, Teu unigênito e Teu fervoroso amante), etc.” 2 Esdras 6:56-58. Os Profetas já haviam alertado que privilégios sem deveres não eram proteção (Jeremias 7:3-4; Miquéias 3:11; Isaías 48:2, etc.). Cristo ensinou-lhes que a descendência de Abraão não tinha exclusividade na oferta de salvação (Mateus 8:11-12), e uma parte especial da missão de Paulo foi fazer com que eles entendessem que “nem todos os que são de Israel são verdadeiramente de Israel” (Romanos 9:6-7; Gálatas 3:29; Gálatas 6:15).

destas pedras. Ele apontou para os pedregulhos ou as pedras de sílex na margem do Jordão ao seu redor. Aquele que fez Adão do barro poderia fazer filhos de Abraão a partir dessas pedras (Bengel). A imaginação de João é a do deserto – a rocha, a serpente, a árvore estéril. [Cambridge]

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9 E também o machado já está posto à raiz das árvores; portanto, toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo.

Comentário Cambridge

já está posto. A ideia é a de um lenhador tocando uma árvore com a borda de seu machado para medir o golpe antes de erguer o braço para derrubá-la.

é cortada e lançada ao fogo. Literalmente, “está sendo cortada e está sendo lançada”. É quase impossível reproduzir em português a força desse uso do presente. É chamado de ‘praesens futurascens’ e é usado em casos em que o destino foi há muito proclamado e está, pela evolução das leis naturais das ações de Deus, em curso de cumprimento inevitável. Mas vemos, a partir da imaginação profética, que mesmo quando a árvore foi derrubada e queimada, “os vigias e santos” ainda podem ter a tarefa de deixar o toco dela na grama tenra do campo para que possa crescer novamente, conforme Daniel 4:25; e vemos a partir da linguagem expressa de Paulo que a oliveira da vida judaica não deveria ser cortada e queimada para sempre (Romanos 9:10). Uma figueira estéril também foi o símbolo de nosso Senhor para a nação judaica, conforme Lucas 13:6. [Cambridge]

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10 E as multidões lhe perguntavam: Então o que devemos fazer?

Comentário de David Brown

Então o que devemos fazer? – para mostrar a sinceridade do nosso arrependimento. (Veja também em Mateus 3:10) [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

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11 E ele lhes respondeu: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem; e quem tiver comida, faça da mesma maneira.

Comentário Cambridge

Quem tiver duas túnicas. Lucas é o único que nos preserva os detalhes desta seção interessante. Além da única vestimenta superior (chiton, cetonete) e a veste (himation) e cinto, nenhum outro artigo de roupa era necessário. Uma segunda ‘túnica’ era um mero luxo, enquanto milhares eram tão pobres que nem sequer possuíam uma.

reparta com o que não tem. Paulo deu conselhos semelhantes (2Coríntios 8:13-15), e Tiago (Tiago 2:15-17), e João (1 João 3:17), porque aprenderam esse espírito de Cristo. O cumprimento literal disso muitas vezes foi representado pela Arte Cristã na “Caridade de São Martinho”. [Cambridge]

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12 E chegaram também uns publicanos, para serem batizados; e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer?

Comentário do Púlpito

Esta é a primeira vez que esta classe de homens, que em várias ocasiões aparece na história do evangelho, é mencionada. Os τελῶναι, do latim publicani (de onde vem a nossa tradução), eram homens que coletavam os impostos ou tributos romanos. Esses impostos imperiais, o lembrete mais doloroso e constante para o judeu de sua posição de súdito e dependente, foram inicialmente arrendados a especuladores da ordem equestre; esses eram propriamente os publicani. Abaixo deles e a seu serviço havia uma numerosa equipe que realizava para esses arrendatários da receita imperial as várias tarefas desagradáveis relacionadas à cobrança dos impostos. Suborno, corrupção, opressão e tratamento injusto eram muito comuns em todos os cargos oficiais. Primeiro, a própria função, o envolvimento na coleta de um tributo – pois é isso que esses impostos realmente eram – para a Roma gentia, e, segundo, as várias iniquidades relacionadas à coleta deste tributo, tornavam os coletores de impostos ou tributos de todas as categorias odiosos entre os judeus que viviam na Palestina. Muitos dos cargos, especialmente os subalternos, neste departamento de tributos e impostos, eram ocupados por judeus, em todas as épocas singularmente talentosos em assuntos relacionados às finanças. O judeu, porém, nos dias de João Batista, que conseguia se rebaixar a tal emprego, embora lucrativo, era olhado com intenso desprezo por seus compatriotas mais rigorosos. No entanto, mesmo esses homens não são exortados por este profeta inspirado do Altíssimo a mudar sua maneira de vida, mas apenas sua conduta. “Vocês,” ele diz a esses homens que pertenciam a uma profissão odiada, “querem verdadeiramente se purificar aos olhos do que tudo vê? Então, nessa profissão de vocês, lembrem-se, sejam cuidadosos, sejam honestos.” [Pulpit]

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13 E ele lhes disse: Não exijais mais do que vos está ordenado.

Comentário de David Brown

Não exijais mais, etc. — dirigido à extorsão que tornava os publicanos motivo de escárnio. (Veja em Lucas 19:2; Lucas 19:8). (Também veja em Mateus 3:10). [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

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14 E uns soldados também lhe perguntaram: E nós, que devemos fazer? E ele lhes disse: Não maltrateis nem defraudeis a ninguém; e contentai-vos com vossos salários.

Comentário de David Brown

soldadosNão maltrateisa ninguém. A palavra significa ‘sacudir profundamente’ e, assim, ‘intimidar’, provavelmente com o objetivo de extorquir dinheiro ou outros bens. (Também veja em Mateus 3:10).

nem defraudeis — não devem agir como informantes de forma irritante, com acusações frívolas ou falsas.

contentai-vos com vossos salários. Podemos interpretar isso como um aviso contra o motim, que os oficiais tentavam reprimir com generosidades e doações [Webster e Wilkinson]. E, assim, os ‘frutos’ que evidenciariam o arrependimento deles eram simplesmente a resistência aos pecados predominantes, especialmente na classe à qual o arrependido pertencia, e a demonstração de um espírito oposto. [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

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15 E, enquanto o povo estava em expectativa, e todos pensando em seus corações se talvez João seria o Cristo,

Comentário de David Brown

(15-17) seria o Cristo – demonstrando tanto o quão bem-sucedido ele tinha sido em despertar a expectativa da iminente vinda do Messias, quanto o alto conceito e até mesmo a reverência que seu próprio caráter inspirava. (Também veja em Mateus 3:10). [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

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16 João respondeu a todos: De fato, eu vos batizo com água, mas vem um que é mais poderoso do que eu, de quem eu não sou digno de desatar a tira das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.

Comentário de David Brown

João respondeu — seja à delegação de Jerusalém (veja João 1:19, etc.), ou em alguma outra ocasião, simplesmente para dissipar impressões prejudiciais ao seu abençoado Mestre que ele sabia estarem se difundindo na mente do público. (Também veja em Mateus 3:10.)

a todos — solenemente protestando. Longe de pensar em reivindicar as honras do Messias, os serviços mais humildes que posso prestar a esse “Mais Poderoso do que eu que está vindo após mim” são uma honra demasiadamente alta para mim. Belo espírito, que distingue completamente esse servo de Cristo!

um que é mais poderoso do que eu“o mais Poderoso do que eu” [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

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17 Sua pá está na sua mão para limpar sua eira, e para juntar o trigo no seu celeiro; porém queimará a palha com fogo que nunca se apaga.

Comentário do Púlpito

Sua pá está na sua mão para limpar sua eira, e para juntar o trigo no seu celeiro. Mas não apenas isso, ensinou João, a obra do Messias consistiria em batizar aqueles que buscavam a sua presença com o poderoso batismo do Espírito Santo e do fogo, havia outro aspecto terrível de sua missão. Os inúteis, os egoístas, os opressores e os falsos de coração – esses seriam separados e então destruídos. Quando essa separação e destruição subsequente acontecerão? A separação começará nesta vida. O efeito da revelação de um Salvador seria intensificar imediatamente a oposição entre o bem e o mal. Entre os seguidores de Cristo e os inimigos de Cristo, uma linha nítida de demarcação seria rapidamente desenhada até mesmo aqui; mas a verdadeira separação só ocorreria no grande dia em que o Messias julgaria o mundo; então as duas classes, os justos e os ímpios, seriam reunidas em dois grupos; a condenação, avassaladora e irresistível, levaria os infelizes malfeitores à destruição, enquanto os justos seriam recebidos em sua própria cidade abençoada. As imagens usadas são duras, mas impressionantes. Foram retiradas, como muitos ensinamentos orientais, de cenas da vida cotidiana do mundo do trabalho ao seu redor. O cenário é uma daquelas eiras orientais no topo ou lado de uma colina, escolhida para se beneficiar do vento. O ator, um camponês empregado na debulha. “Não muito longe do local da antiga Corinto”, escreve um viajante na Grécia, “onde os camponeses em muitos de seus costumes se aproximam das nações orientais, passei por um monte de grãos em que alguns trabalhadores estavam ocupados em debulhar: eles usavam para jogar o trigo e a palha misturados, um garfo de madeira de três pontas, com aproximadamente um metro de comprimento. Semelhante a este, sem dúvida, era a pá de debulhar que João Batista descreve Cristo carregando” (Hackett, citado pelo Dr. Morrison, em Mateus 3:12). A pá assim descrita lançaria contra a brisa o trigo e a palha misturados; as partículas leves seriam levadas para o lado, enquanto o grão cairia e permaneceria na eira. [Pulpit]

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18 Assim, exortando com muitas outras coisas, João anunciava a boa notícia ao povo.

Comentário de Alfred Plummer

(18-20. Somente em Lucas) Explicação do Término Abrupto do Ministério de João Batista. Isso é fornecido aqui antecipadamente para completar a narrativa. Compare as conclusões de narrativas anteriores: Lucas 1:66, 80, 2:40, 52.

Assimcom muitas outras coisas [Λολλὰ μὲν οὖν καὶ ἕτερα]. O abrangente πολλὰ καὶ ἕτερα confirma a visão apresentada acima (versículo 7) de que essa narrativa (7–18) apresenta um resumo do ensinamento de João em vez de um relato do que foi dito em uma ocasião específica. O ἕτερα significa “de um tipo diferente” (Gálatas 1:6-7) e indica que a pregação do Batista nem sempre tinha o caráter indicado.

Os casos em que μὲν οὖν ocorrem devem ser diferenciados. 1. Onde, como aqui, μέν é seguido por um δέ correspondente e temos nada mais do que o distributivo μὲν … δὲ … combinado com οὖν (Atos 8:4, 25, 11:19, 12:5, 14:3, 15:30, etc.). 2. Onde não há δέ seguinte e μέν confirma o que é dito, enquanto οὖν marca uma inferência ou transição, quidem igitur (Atos 1:6, 2:41, 5:41, 13:4, 17:30; Hebreus 7:11, 8:4, etc.). Win. liii. 8. a, p. 556.

exortandoanunciava a boa notíciarepreendido [παρακαλῶν εὐηγγελίζετο…ἐλεγχόμενος]. Estas palavras mostram as três principais funções do Batista: exortar a todos, proclamar boas novas aos arrependidos, reprovar os impenitentes. É totalmente desnecessário considerar τὸν λαόν com παρακαλῶν, e a ordem das palavras vai contra essa combinação.

No grego tardio, o acusativo da pessoa a quem o anúncio é feito é frequente após εὐαγγελίζεσθαι (Atos 14:15, 16:10; Gálatas 1:9; 1Pedro 1:12; comp. Atos. 8:25, 40, 14:21): e, portanto, na forma passiva, temos πτωχοὶ εὐαγγελίζονται. O acusativo da mensagem anunciada também é comum (Lucas 8:1; Atos 5:42, 8:4, 12?, 10:36, 11:20). Quando pessoa e mensagem são combinadas, a pessoa abordada está no dativo (Lucas 1:19, 2:10, 4:43; Atos 8:35; comp. Lucas 4:18; Atos 17:18; Romanos 1:15, etc.): mas em Atos 13:32 temos duplo acusativo. Aqui os textos latinos variam entre evangelizabat populum (Cod. Am.) e evang. populo (Cod. Brix.). [Plummer, 1896]

19 Porém, quando Herodes, o tetrarca, foi repreendido por ele por causa de Herodias, mulher do seu irmão, e por todas as maldades que Herodes havia feito,

Comentário de David Brown

(19-20). Porém, quando Herodes, etc. Veja em Marcos 6:14, etc. (Também veja em Mateus 3:12.)

e por todas as maldades que Herodes havia feito — um fato importante mencionado apenas aqui, mostrando quão completo era o compromisso do Batista com seu ouvinte da realeza e quão fortes devem ter sido as lutas de consciência naquela pessoa dominada pela paixão quando, apesar de tanta franqueza, “fez muitas coisas e ouviu João de boa vontade” (Marcos 6:20, 26). [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

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20 acrescentou a todas ainda esta: encarcerou João na prisão.

Comentário de Alfred Plummer

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acrescentou a todas ainda esta: encarcerou João na prisão. Ou seja, ele acrescentou isso a todas as outras más ações das quais ele era culpado. Farrar, Herodes, p. 171.

Josefo, na famosa passagem que confirma e complementa a narrativa do Evangelho sobre o Batista (Ant. xviii. 5, 2), afirma que Antipas o colocou na prisão devido à sua imensa influência sobre o povo. Parecia que estavam prontos para fazer tudo o que ele mandasse; e ele poderia mandá-los se revoltar. Isso pode ter sido facilmente um motivo adicional para aprisioná-lo: não contradiz os Evangelistas. O que Josefo afirma é o que Antipas alegou publicamente como motivo para prender João: é claro que ele não revelaria seus motivos particulares. A prisão em que João Batista foi confinado estava na fortaleza de Maquero, no canto nordeste do Mar Morto. Seetzen descobriu o local em 1807 acima do vale do Zerka, e ainda é possível traçar masmorras entre as ruínas. Tristram a visitou em 1872 (Discoveries on the East Side of the Dead Sea, cap. xiv.). Foi para lá que a filha de Aretas fugiu a caminho de seu pai, quando descobriu que Antipas pretendia trocá-la por Herodias. Maquero estava então nos domínios de seu pai, mas Antipas provavelmente a tomou imediatamente depois (Jos. Ant. xviii. 5, 1, 2).

A expressão προσέθηκεν τοῦτο, κατέκλεισεν  não deve ser confundida com as hebraísmos προσέθετο πέμψαι (Lucas 10:11-12), προσέθετο συλλαβεῖν (Atos 12:3). É verdade que na Septuaginta (LXX), o uso ativo, assim como o uso médio, é feito dessa maneira: προσέθηκε τεκεῖν (Gênesis 4:2); προσέθηκε λαλλῆσαι (Gênesis 18:29); veja também Êxodo 10:28; Deuteronômio 3:26; e para o uso médio, Êxodo 14:13. Mas nesse uso hebraico de προστίθημι para “continuar e fazer”, o segundo verbo sempre está no infinitivo (Win. liv. 5, p. 588). Aqui não há hebraísmo, e portanto não há sinal de que Lucas esteja usando uma fonte aramaica.

Κατακλείειν é uma palavra clássica, mas ocorre no Novo Testamento apenas aqui e em Atos 26:10; em ambos os casos de aprisionamento. É frequente em escritores médicos, e Galeno a usa para aprisionamento (Hobert, Med. Lang. of Lk. pp 66, 67). Em Mateus 14:3 temos ἀπέθετο, e em Marcos 6:17, ἔδησεν, referindo-se ao ato de Herodes de colocar João na prisão. [Plummer, 1896]

21 E aconteceu que, quando todo o povo era batizado, Jesus também foi batizado, e enquanto orava, o céu se abriu,

Comentário de David Brown

quando todo o povo era batizado – para que Ele não parecesse ser apenas mais um na multidão. Assim como Ele entrou em Jerusalém montado em um jumentinho “em que ainda ninguém havia montado” (Lucas 19:30) e foi colocado em um sepulcro “onde ninguém ainda havia sido colocado” (João 19:41), em Seu batismo Ele seria “separado dos pecadores”. [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

22 e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba; e veio do céu uma voz: Tu és o meu Filho amado, em ti me agrado.

Comentário Whedon

o Espírito Santo desceu. Eram esses fenômenos sobrenaturais, pergunta-se, uma mera visão, feita de concepções como um sonho, forjada na mente de João, ou eram uma realidade externa? Além de qualquer dúvida, respondemos, uma realidade externa. O Apocalipse é uma série de visões produzidas inspirando poder dentro da mente do vidente sem qualquer objeto externo; mas esse movimento do Espírito sobre Jesus era, externamente, tão real quanto João ou o próprio Jesus. Mas como o Espírito de Deus pode se mover de um lugar para outro? O Espírito de Deus, respondemos, não é um vapor panteísta e sem movimento – uma essência universal, fixa e estagnada – mas um Ser vivo, pessoal e poderoso, onipotente para operar de acordo com Sua própria vontade. E se os espíritos angélicos, como Gabriel, podem se revestir de encarnações visíveis, ou mesmo se um espírito humano pode ser revestido de um corpo material, então, além de qualquer dúvida, pode o Espírito Divino. E devemos repudiar firmemente essa completa falsificação das palavras de Lucas, da qual muitos, mesmo os comentaristas ortodoxos dos dias atuais, são culpados. Todo evangelista menciona a pomba; e Lucas declara que havia forma corporal de pomba. Fazer disso (com Olshausen, Van Oosterzee e outros) um raio de luz, algo sem forma “com um movimento trêmulo como de uma pomba”, não é interpretar a linguagem de Lucas, mas substituir palavras próprias.

Não há nada na narrativa que mostre que foi uma ocorrência privada, e igualmente nada que mostre que foi na presença e vista por números.

como pomba. Assim como o cordeiro é a imagem mansa e terna de Jesus, a pomba é o símbolo do Espírito puro e manso. “Inofensivos como as pombas” é a comparação do Salvador para seus seguidores no Espírito. Para a simplicidade da antiguidade, tais símbolos eram lições permanentes e impressionantes, moldando a mente rude a conceitos elevados e sagrados. Olshausen bem diz:“De acordo com o simbolismo bíblico, certos caracteres mentais aparecem expressos em vários animais, como o leão, o cordeiro, a águia, o boi”. E então ele pode ter inferido que, como é a forma do animal que expressa o símbolo, a forma da pomba deve estar presente na maioria dos sinais de todas as instâncias do símbolo exibido.

do céu uma voz. Uma voz tão verdadeira, com uma articulação tão verdadeira, como sempre veio de órgãos de enunciação humanos ou sobre-humanos. Não era um sonho ou concepção de João, mas uma realidade para sua percepção. E tal voz e articulação não são mais difíceis de adivinhar o poder do que o trovão inarticulado por meio do fluido elétrico, e não são mais incríveis quando devidamente autenticadas.

do céu. A voz veio audivelmente do céu; a pomba veio visivelmente do “céu aberto”. O céu, como mostramos em outro lugar (nota sobre Marcos 16:19), está, tanto na concepção quanto na realidade, acima de nós. Portanto, tanto na concepção quanto na realidade, uma forma ou uma voz do céu deve descer até nós. Ele desce através do espaço e da atmosfera. Se for uma realidade, atravessa ambos. Ele vem através do ar livre, do éter e do firmamento. Deixe a retina do olho ser devidamente acelerada, e a própria abertura do ar e do firmamento se torna visível. Mesmo assim, não há concepção, mas percepção.
A antiga Igreja Grega celebrava o batismo de Jesus no dia seis de janeiro, sob o título de EPIFANIA, ou Manifestação. A razão deste Crisóstomo, assim, concisamente pergunta e responde:“Por que o dia em que ele nasceu não é chamado de Epifania, mas o dia em que ele foi batizado? Porque ele não se manifestou a todos quando nasceu, mas quando foi batizado. Pois até o dia de seu batismo ele era geralmente desconhecido, como resulta daquelas palavras de João Batista:“Está entre vocês um a quem vocês não conhecem.” E que maravilha que outros não o conhecessem, quando o próprio Batista não o conhecia antes desse dia? ”

Mas Agostinho fornece várias razões adicionais combinadas para celebrar a Epifania:“Neste dia celebramos o mistério de Deus se manifestando por seus milagres na natureza humana; ou porque neste dia a estrela no céu deu aviso de seu nascimento; ou porque ele transformou água em vinho na festa de casamento em Caná da Galiléia; ou porque consagrou água para a reparação da humanidade com seu batismo no rio Jordão; ou porque com os cinco pães ele alimentou cinco mil homens. Pois em qualquer um deles estão contidos os mistérios e alegrias da nossa salvação ”. De tudo isso, é claro que a celebração pela Igreja de um acontecimento das Escrituras, em determinado dia, não é uma prova muito contundente de que esse dia é o autêntico aniversário do acontecimento. Durante os três primeiros séculos na Igreja Grega, o Natal e a Epifania eram no mesmo dia, ou seja, seis de janeiro. Mateus 1:1-17. [Whedon, aguardando revisão]

Genealogia de Jesus

23 E o mesmo Jesus começou quando tinha cerca de trinta anos, sendo (como se pensava) filho de José, filho de Eli,

Comentário de David Brown

começou quando tinha cerca de trinta anos — isto é, “estava prestes a entrar em Seu trigésimo ano”. Assim, nossos tradutores interpretaram a palavra (e também Calvino, Beza, Bloomfield, Webster e Wilkinson, etc.): mas “tinha cerca de trinta anos quando começou [seu ministério]” interpreta melhor o grego e provavelmente é o verdadeiro sentido (Bengel, Olshausen, De Wette, Meyer, Alford, etc.). Nessa idade, os sacerdotes assumiam seu ofício (Números 4:3).

sendo (como se pensava) filho de José, etc. Temos nesta genealogia, assim como na de Mateus, a linhagem de José? Ou esta é a linhagem de Maria? — um ponto sobre o qual houve grande diferença de opinião e muita discussão. Aqueles que defendem a primeira opinião argumentam que essa é a interpretação mais natural deste versículo e que nenhuma outra teria sido considerada se não fosse pela suposta improbabilidade e pela incerteza que parece lançar sobre a verdadeira descendência de nosso Senhor. Mas isso está sujeito a outra dificuldade; ou seja, que neste caso Mateus faz de Jacó, enquanto Lucas faz de “Eli”, o pai de José; e embora a mesma pessoa muitas vezes tenha mais de um nome, não devemos recorrer a essa suposição, em um caso como este, sem necessidade. E então, embora a descendência de Maria de Davi não estivesse sujeita a nenhuma dúvida real, mesmo que não tivéssemos nenhum registro de sua linhagem preservada para nós (veja, por exemplo, Lucas 1:2-32 e veja em Lucas 2:5), ainda parece improvável — não dizemos incrível — que nos tenham sido preservadas duas genealogias de nosso Senhor, nenhuma das quais dá sua verdadeira descendência. Aqueles que adotam a segunda opinião, de que temos aqui a linhagem de Maria, como em Mateus a de José — aqui Sua linhagem real, lá Sua suposta linhagem — explicam a afirmação sobre José, de que ele era “filho de Eli”, como significando que ele era seu genro, como marido de sua filha Maria (como em Rute 1:11-12), e acreditam que o nome de José é introduzido em vez do de Maria, de acordo com o costume judeu em tais registros. Talvez esta visão seja a que apresenta menos dificuldades, pois certamente é a mais bem fundamentada. Independentemente da decisão, é satisfatório saber que nem uma dúvida foi lançada pelos inimigos mais amargos do cristianismo quanto à verdadeira descendência davídica de nosso Senhor. Ao comparar as duas genealogias, será encontrado que Mateus, escrevendo mais diretamente para os judeus, achou suficiente mostrar que o Salvador era descendente de Abraão e Davi; enquanto Lucas, escrevendo mais diretamente para os gentios, traça a descendência até Adão, o tronco ancestral de toda a família humana, mostrando assim que Ele é a prometida “Semente da mulher”. “A possibilidade de construir uma tabela como essa, abrangendo um período de milhares de anos, em uma linha ininterrupta de pai para filho, de uma família que viveu por muito tempo na mais completa obscuridade, seria inexplicável se os membros dessa linhagem não tivessem sido dotados de um meio para se destacar das muitas famílias em que cada tribo e ramo se subdividiu novamente, e assim se manterem e reconhecerem o membro destinado a continuar a linhagem. Esse meio era a esperança de que o Messias nasceria da raça de Abraão e Davi. O desejo ardente de vê-Lo e participar de Sua misericórdia e glória fez com que a atenção não se esgotasse ao longo de um período que abrange milhares de anos. Assim, o membro destinado a continuar a linhagem, sempre que havia dúvida, tornava-se facilmente distinguível, despertando a esperança de um cumprimento final e mantendo-a viva até que fosse concretizada.” [Olshausen]. [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

24 filho de Matate, filho de Levi, filho de Melqui, filho de Janai, filho de José.

Comentário de David Brown

(24-30) filho de Matate, etc. (Veja em Mateus 1:13-15). Em Lucas 3:27, Salatiel é chamado de filho, enquanto em Mateus 1:12, ele é chamado de pai de Zorobabel. Mas eles provavelmente são pessoas diferentes. [Jamieson; Fausset; Brown, 1873]

25 filho de Matatias, filho de Amós, filho de Naum, filho de Esli, filho de Nagai.

Matatias – “um presente de Javé” (Strong, Smith).

Amós – “carga” (Strong, Fausset); “carregar uma carga” (ISBE, Kitto, Smith).

Naum – “conforto, consolo” (Strong, Gesenius, Hastings, ISBE).

Esli – “guardado por Javé” (Strong).

Nagai – “iluminado” (Strong).

26 filho de Maate, filho de Matatias, filho de Semei, filho de José, filho de Jodá.

Maate – “pequeno” (Strong, Smith).

Matatias – “um presente de Javé” (Strong, Smith).

Semei – “os que escutam:minha notícia” (Strong).

José – “Javé adicionou” (Strong).

Jodá – “seja louvado” (Strong).

27 filho de Joanã, filho de Resa, filho de Zorobabel, e filho de Salatiel, filho de Neri.

Joanã – “o Senhor é gracioso” (Strong).

Resa – “cabeça” (Strong).

Zorobabel – “semeado na Babilônia” (Strong).

Salatiel – “solicitei a Deus” (Strong)

Neri – “o Senhor é a minha lâmpada” (Strong).

28 filho de Melqui, filho de Adi, e filho de Cosã, filho de Elmodã, filho de Er.

Melqui – “meu rei, meu conselheiro” (Strong).

Adi – “ornamento” (Strong).

Cosã – “adivinhação” (Strong).

Elmodã – “medida” (Strong).

Er – “vigilante” (Strong).

29 filho de Josué, filho de Eliézer, filho de Jorim, filho de Matate, filho de Levi.

Josué – “salvação” (Strong).

Eliézer – “Deus é socorro” (Strong)

Jorim – “quem Javé tem exaltado” (Strong).

Matate – “presente de Deus” (Strong)

Levi – “unido a” (Strong)

30 filho de Simeão, filho de Judá, filho de José, filho de Jonã, filho de Eliaquim.

Simeão – “ouvinte” (Strong).

Judá – “louvado” (Strong).

José – “Javé adicionou” (Strong).

Jonã – “Javé é um doador gracioso” (Strong).

Eliaquim – “Deus erge” ou “Deus levanta” (Strong).

31 filho de Meleá, filho de Mená, filho de Matatá, filho de Natã, filho de Davi.

Meleá – “meu querido amigo:objeto de cuidado” (Strong).

Mená – “advinhador:encantado” (Strong).

Matatá – “presente de Javé” (Strong).

Natã – “doador” (Strong).

Davi – “amado” (Strong).

32 Filho de Jessé, filho de Obede, filho de Boaz, filho de Salá, filho de Naassom.

Jessé – “eu possuo” (Strong).

Obede – “servo” (Strong).

Boaz – “rapidez” (Strong).

Naassom – “enfeitiçador” (Strong).

33 Filho de Aminadabe, filho de Admim, filho de Arni, filho de Esrom, filho de Perez, filho de Judá.

Aminadabe – “meu parente é nobre” (Strong).

Esrom – “fechado” (Strong).

Perez – “brecha” (Strong).

Judá – “louvado” (Strong).

34 filho de Jacó, filho de Isaque, filho de Abraão, filho de Terá, filho de Naor.

Terá – “demora” (Strong).

Naor – “resfolegante” (Strong).

35 filho de Serugue, filho de Ragaú, filho de Faleque, filho de Éber, filho de Salá.

Serugue – “ramos” (Strong).

Ragaú – “associa-te:alimenta-te” (Strong).

Faleque – “divisão” (Strong).

Éber – “a região dalém de” (Strong).

Salá – “broto” (Strong).

36 Filho de Cainã, filho de Arfaxade, filho de Sem, filho de Noé, filho de Lameque.

Comentário Whedon

Filho de Cain. O nome deste Cainã não aparece nos catálogos do Antigo Testamento. Foi inserido, tanto na Septuaginta como neste local, por meios desconhecidos. Parece haver alguma razão para supor que ele foi inserido pela primeira vez na Septuaginta com o propósito de alongar a cronologia. Pode, portanto, ter sido inserido pelos primeiros transcritores na genealogia de Lucas, a fim de fazê-lo concordar com a Septuaginta. [Whedon, aguardando revisão]

37 Filho de Matusalém, filho de Enoque, filho de Jarede, filho de Maleleel, filho de Cainã.

Matusalém – “quando ele morre, haverá um derramamento” (Strong).

Enoque – “dedicado” (Strong).

Jarede – “descida” (Strong).

Maleleel – “louvor de Deus” (Strong).

Cainã – “possessão” (Strong).

38 filho de Enos, filho de Sete, filho de Adão, e Adão de Deus.

Comentário Ellicott

Que era o filho de Deus. Toda a forma da genealogia nos leva a aplicar essas palavras a Adão. A humanidade como tal, como resultado de um ato criativo imediato, era a descendência de Deus (Atos 17:28), e as palavras do anjo (Lucas 1:35) implicam que foi porque a natureza humana de nosso Senhor se originou em um ato criativo semelhante, que tinha o direito, não menos do que por sua união com a Filiação do Verbo Eterno, de ser chamado de Filho de Deus. O que era verdade para o segundo Adão também era verdade em parte, embora em medida diferente, para o primeiro. [Ellicott, aguardando revisão]

<Lucas 2 Lucas 4>

Visão geral de Lucas

No evangelho de Lucas, “Jesus completa a história da aliança entre Deus e Israel e anuncia as boas novas do reino de Deus tanto para os pobres como para os ricos”. Tenha uma visão geral deste Evangelho através deste breve vídeo (em duas partes) produzido pelo BibleProject.

Parte 1 (9 minutos).

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Parte 2 (9 minutos).

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Leia também uma introdução ao Evangelho de Lucas.

Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles – fevereiro de 2018.